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Quarta-feira,
3/6/2015
Comentaristas de livros na internet
Guilherme Carvalhal
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Os amplo espaço para emissão de opiniões pela internet dá a possibilidade de nossas interações do usuários com todo tipo de produto. No que diz respeito a literatura, é interessante notar como a possibilidade de deixar comentários e dar notas a livros permite uma análise do posicionamento dos leitores com as obras.
Se pensarmos na maioria dos produtos, os comentários tendem a obedecer critérios objetivos. Suponhamos uma panela elétrica. Se ela promete fazer a comida em 5 minutos e ela cumpre o prometido, provavelmente o usuário dará cinco estrelas e um comentário elogioso. Porém, se ao comprar não vier o fio ou se o mesmo não estiver adequado à voltagem especificada, provavelmente o usuário dará menos estrelas e comentará negativamente.
No caso das artes, e mais especificamente a literatura, o funcionamento é diferente. As artes estão no universo do subjetivo e a experiência de cada indivíduo com um livro sempre será única. A história recente ajuda a entender isso: o movimento modernista rompeu com o academicismo reinante e, consequentemente, com o objetivismo artístico. Daí em diante a apreciação artística não obedeceu mais a regras prontas e passou a ser ditada pela subjetividade.
Um dos comentários mais típicos em sites de vendas de livros é sobre o livro ser de leitura fácil. E normalmente são comentários positivos, com notas mais altas para a obra. O que esse posicionamento dá a entender é que o leitor encarou o livro como algo de entretenimento, que precise ser prazeroso e não trabalhoso. Para um outro tipo de leitor, que prefira uma obra mais densa e exigente, a leitura fácil poderia render uma avaliação negativa. O mesmo se enquadra nos comentários afirmando que o livro tem leitura rápida, dando a entender que a obra possui estrutura linear (começo, meio e fim nessa ordem) e não dá muitas brechas para a imaginação do leitor, mostrando novamente a divisão de bom para uns, ruim para outros.
No caso das críticas negativas, o leque de comentários é mais vasto (o que por si já gera um questionamento fantástico, por ser mais fácil desagradar do que agradar). Entre alguns comentários estão o fato do livro não prender o leitor, de não instigar, da história não ter pé nem cabeça, final que não faz jus ao restante da obra, etc. Novamente, uma mostra da expectativa dos leitores: o livro precisa de coerência, de um bom final, ou seja, de todas as características de uma obra linear.
A maioria dos comentários referidos aqui foram constatados em obras de autores desconhecidos, já que o modelo da autopublicação permite aos mais variados escritores publicarem seu trabalho. A própria Amazon tem esse modelo para venda de ebooks. Porém, ao mudarmos o foco para autores consagrados, o estilo dos comentários tende a mudar.
Nesse caso específico, os comentários costumam sempre avaliar positivamente as obras. Possivelmente duas coisas movem isso: o fato de realmente serem livros de altíssima qualidade e também o receio em postar publicamente uma opinião negativa ao clássico. É pouco provável que alguém venha seriamente a público dizer que Shakespeare ou Machado de Assis sejam ruins, precisando ter muito peito para sustentar uma opinião assim (e é o tipo de opinião que tende a explicar mais sobre o comentarista do que sobre o comentado).
Há um grupo de comentários objetivos que diz respeito a questões técnicas do livro. Normalmente negativos, eles se referem aos erros de português, falhas na tradução, má diagramação, entre outros aspectos, algo que pode ser recorrente em um mercado que conta com vários autores que publicam por conta própria, sem editores, diagramadores ou editores. Ver uma nota baixa a Moby Dick é estranho, mas costuma ser uma opinião sobre má editoração e não sobre insuficiência técnica da escrita.
Ver comentários sobre livros pela internet nos ajuda a compreender a relação dos leitores com livros. A leitura como entretenimento é um dos principais fatores, o que não é novidade, bastando ver as listas de best sellers. Ao mesmo tempo, indica também que chegar a uma linearidade de perfil é uma tarefa impossível, havendo gostos e posicionamentos diversos, o que também se nota pela pulverização de estilos que se encontra pelas livrarias físicas e online.
Postado por Guilherme Carvalhal
Em
3/6/2015 às 13h40
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