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Segunda-feira,
29/6/2015
Dançava na terceira lua cheia do ano.
Aden Leonardo Camargos
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Imagem: Mark Olich
Foi vista andando pela cidade novamente.
Ela que tentou tanto o não, guardando todas as mazelas debaixo das dúvidas já sofridas e escarnecidas. Falou docemente de nenhuma expectativa, querendo sempre o não, o nunca. Aplicou não nascer. Cobriu sua casa com os mantos das benzedeiras. Deu machadadas na porta para o mal colar e ficar.
Dava pena... Dizem que dava pena. Não sei bem. Dançava no vento junto com as sacolinhas plásticas. Abraçava aos sussurros nos muros chapiscados a sua imaginação. Sangrava toda tarde de segunda-feira. Já foi vista à meia noite correndo pela rua. Capturando e bebendo no seu ser a mistura da razão com coisa nenhuma. Foi assunto de dona de casa de cidade pequena. Um boato corria que fazia mensalmente dois vodus com muitas agulhas. Satanicamente dançava na terceira lua cheia do ano. Disse sempre uns berros doidos e roçava seu rosto no chão da dor. Embruteceu sem mais desejos.
Não houve mais luz do dia, nem distração à toa, nem corrida matutina, nem dia de nada, sequer três de janeiro... oito, nada...
Não impediu. Ficou uma pedra no meio de tantas cores, tanto nada jogado fora.
Triste ver hoje sua dança ao som de um bandolim imaginário, recitando a história do limbo humano. Canta ela num lirismo antigo: sua papoula de vícios guardados foi colhida inadvertidamente por um encanto, que tolheu seus sentidos. Queimou-se na poção errada. Morreu aos gritos de pavor.
Sobrevive hoje fazendo reza para tirar brabeza de criança. Ri e conta graça. Como todas as flores, essa mulher foi flor colhida, morta, simplesmente ignorada.
São raras as replantações de flor. Hoje os vales têm capim. Uma armadura leve.
Não acha viver ilusão. Acha ilusão o que vê.
Postado por Aden Leonardo Camargos
Em
29/6/2015 às 22h03
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