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Sexta-feira,
3/7/2015
1994: a Copa que foi uma festa
Luís Fernando Amâncio
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Por Luís Fernando Amâncio
Striker, o mascote que ganhava nossa simpatia por parecer personagem da Hanna Barbera.
A Copa do Mundo de 1994 foi realmente um evento e tanto. Principalmente para nós, brasileiros. Um país que se orgulhava de ser uma referência na evolução do futebol não poderia ficar 24 anos sem um título mundial. O jejum caiu em Pasadena, numa tarde de 17 de julho, junto com a bola isolada por Roberto Baggio.
Sugestão: dá o play nesse vídeo, trilha sonora do texto
24 anos sem algo acontecer, para quem começara aquela Copa com 7 de idade, soava como algo próximo a todo o tempo da história da humanidade. Eu sabia pouco sobre a contagem do tempo e, sobretudo, a respeito do que era futebol. Para se ter uma ideia, eu não entendia a diferença entre os jogos que aconteciam no campo próximo à casa do meu avô e as partidas que eram transmitidas na TV. De fato, quando ia ao Canto do Rio (nome do bairro e do time amador de Três Corações), ficava procurando as câmeras, estranhava não ter narrador dizendo o nome dos jogadores e perguntava se um dos times era o Corinthians.
Foi com a Copa dos Estados Unidos que eu aprendi algumas coisas sobre o esporte bretão. A principal: que o futebol podia ser uma grande festa. Porque aquele campeonato já começou bem: fomos liberados mais cedo na escola para ver a abertura do evento em casa. Geralmente você tinha que quebrar o nariz ou algo similar para isso acontecer.
Com os jogos do Brasil, então, a coisa era mais animada ainda. Ia gente da família e amigos ver o jogo lá em casa - ou éramos nós que íamos até a casa deles. E, não bastasse ter companhia de outras crianças para brincar, ainda tinha comida boa e refrigerante. Até então, eu achava que isso se chamava "aniversário".
Por outro lado, não posso mentir, as quase duas horas de duração de um jogo era tempo demais para mim. Lembrem-se do primeiro parágrafo: 24 anos soavam uma eternidade, eu não sabia de nada. Se pensar bem, eu não devo ter assistido nenhum jogo inteiro. Por exemplo, no emblemático confronto com a Holanda, pelas quartas-de-final do torneio, eu vi o Brasil fazer dois a zero, fui jogar bola na rua (onde eu também não sabia muito bem o que estava fazendo, o que não mudaria com o passar do tempo), voltei e encontrei todo mundo sofrendo com o jogo empatado e, ufa, ainda deu tempo de festejar aquele golaço de falta do Branco.
E falando em rua, quando o Brasil ganhava (isso aconteceu cinco vezes naquela Copa, mais a final, que foi empate com vitória nos pênaltis), minha família entrava no fusca do meu pai e íamos para a principal praça de Três Corações. Lá, uma algazarra só, música e gente para todos os lados. Camisas verdeamarelas em todo mundo, carros buzinando. Eu tinha uma corneta verde e uma recomendação: pode fazer barulho à vontade. Isso era raro. Para mim, o nome de algo assim era "carnaval". Era muita novidade para uma Copa só.
Anos depois, mais entendido, descobri que aquela seleção brasileira nem era das melhores. Praticava um futebol pragmático, dizem, com muita marcação e pouca criatividade, abusando da boa fase de nossos atacantes. Isso é o que dizem os sabichões do futebol. Para mim, aquele time sempre será mágico. Pô, no meio-campo tínhamos uma dupla que combinava demais: Zinho e Mazinho. Nossos zagueiros, Aldair e Márcio Santos tinham mullets e o reserva, Ricardo Rocha, um bigode que só nos faz pensar na palavra RESPEITO. Isso era zaga, não babacas posando com a língua pra fora. O Dunga ~favor não confundir com o atual técnico da seleção~ era uma versão boleira do Guile, do Street Fighter. No penteado e na cara de quem vai por ordem na bagunça, nem que fosse necessário aplicar uns Sonic Booms.
Romário e Bebeto merecem um parágrafo à parte. O Baixinho era o cara, seus dribles curtos e eficientes, chutes certeiros e cabeçadas (AQUELE gol contra a Suécia na semifinal!) fizeram dele um dos maiores artilheiros da história. Romário era rei, era o máximo, era o cão. O Bebeto foi, talvez, nosso melhor coadjuvante em Copas. Veloz e também matador. Que time, amigos. Certamente maior do que a seleção de 1970, que por mais que pudesse ser excelente, cometeu o erro imperdoável de acontecer antes do meu nascimento.
O tempo passa, a gente envelhece e o futebol já não me faz festejar tanto. Também, pudera, hoje em dia não é mais qualquer corneta verde e pedaço de pizza que me compram. Não há festas como aquelas de antes dos 10 anos. E, com uma geração de futebolistas mais hábeis no manuseio de redes sociais do que em suas profissões, relembrar o passado é o que há de melhor no momento. Porque o nosso presente é de infinitos gols da Alemanha.
Postado por Luís Fernando Amâncio
Em
3/7/2015 às 16h45
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