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Quarta-feira,
15/7/2015
O 'país de me***' de Thaila Ayala
Luís Fernando Amâncio
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Fonte da imagem: Instagram da atriz Thaila Ayala
Saiu no site da Revista Quem, no dia 13 de julho de 2015, uma nota sobre a revolta da atriz Thaila Ayala, após ser taxada pela Receita Federal ao entrar no Brasil com um computador não declarado. Segundo ela, foi um erro do funcionário que escreveu sua declaração.
O contratempo fez Thaila desceu do salto no próprio aeroporto e esbravejou sua revolta num aplicativo de celular. "Parabéns Brasil. Parabéns você que mora nesse país de me*** e é parada na Receita Federal e tem que pagar pela segunda vez seu computador! (...) Você chega já desesperada para ir embora porque é um país de muita injustiça! Simplesmente somos assaltados diariamente! Toda vez que eu chego no Brasil no percurso aeroporto para minha casa eu coloco o passaporte dentro da minha calça porque se eu for assaltada ele pode roubar tudo, menos o passaporte, para eu vazar!", declarou a atriz.
Veja a nota original no site da Revista Quem
Em 1958, antes da Copa do Mundo, Nelson Rodrigues analisou as chances da seleção brasileira naquela competição na memorável crônica Complexo de vira-latas. Para o autor, o brasileiro, que tinha talento de sobra, teria êxito se superasse a inferioridade em que voluntariamente se colocava na relação com o resto do mundo. "Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol", escreveu o dramaturgo carioca. Esse conceito de "complexo de vira-latas" foi explorado na interpretação da identidade brasileira por outros autores, extrapolando o âmbito esportivo. Em 1968, com o país já bicampeão mundial de futebol, Nelson Rodrigues volta a tratar da insegurança do brasileiro, na crônica "A vaca premiada": "o brasileiro tornou-se um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: - não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima".
Nelson Rodrigues. Imagem tirada do site Diário do Centro do Mundo
Nelson Rodrigues segue atual, como todo clássico. Eu diria que o "complexo de vira-latas" gerou uma variação que, em homenagem à Thaila Ayala, chamarei de "complexo de país de me***". Que é quase a mesma coisa. Há uma descrença enorme nas instituições, uma desesperança sufocante de que algo possa melhorar. O sentimento é de que nossa crise é a pior, nossa corrupção é a maior da galáxia e o Estado saqueia o cidadão de bem.
Só que no "complexo de país de me***", não há o sentimento de viralatismo. Geralmente, o autor dos impropérios "contra tudo isso que está aí" se sente no mais alto dos pedigrees. A culpa é sempre do outro: do corrupto, da Receita Federal, da incompetência. O revoltado, porém, tem raça e se sente especial o suficiente para querer "vazar daqui". Ele é melhor do que o Brasil.
Não se trata de fazer o jogo do contente e achar que nosso país é o melhor da forma que está. Nossas cidades estão impregnadas de desigualdades gritantes, ostentação e mendicância convivem e nem nos ruborizamos por isso. Deputados constroem um Shopping Center no Congresso enquanto o governo federal corta o investimento da educação. Há muito para ser criticado.
Mas, vejamos as notícias que o site da Revista Quem nos apresenta como relacionadas à nota que citamos no início deste texto:
Thaila Ayala arrasa com look branco total e tênis: "Prezo pelo conforto"
Thaila Ayala, Sophie Charlotte e Fiorella Mattheis tem encontro de amigas
Thaila Ayala brinca com bonecas e causa polêmica
Poderosa! Thaila Ayala posa cheia de estilo em cima de Ferrari em Veneza: "E quem disse que Veneza não tem carro?"
E é assim, prezando pelo conforto e look branco, com hastags revoltadas nas redes sociais, polemizando com bonecas, que nossa sociedade vai internalizando seu discurso de "país de me***". De olho no próprio umbigo, soberano em Veneza.
Postado por Luís Fernando Amâncio
Em
15/7/2015 às 20h06
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