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Sexta-feira,
17/7/2015
Uma História da Tecnologia da Informação- Parte 7
Claudio Spiguel
+ de 4100 Acessos
Parte 7: Lembro aos leitores e leitoras que não leram Partes 1 - 6, que vocês podem acessá-las "clicando" no Mais Claudio Spiguel aí embaixo no rodapé do texto.
Não tinha muita ideia que chegaria a uma Parte 7, ou além, quando comecei esta série. Mas vamos em frente na nossa viagem, esperando que a série continue capturando sua imaginação e interesse através dessa história fantástica da evolução das tecnologias de computação e comunicações. E com exemplos que julgo significativos da minha carreira profissional, que praticamente encapsulou essa evolução. Talvez valha a pena repetir uma frase escrita anteriormente para recolocar o conteúdo em perspectiva para novos leitores: Jovens hoje nem conseguem imaginar a vida sem um computador pessoal e a Internet...
Bem, essa vida inimaginável foi, na verdade, razoavelmente recente. Era o final dos anos 70, e na Universidade de Michigan a revolução do uso do computador através do conceito de "time-sharing" através do MTS-Michigan Terminal System estava em franco progresso. O Centro de Computação da Universidade abriu vários Centros-satélite no campus onde alunos e professores podiam acessar o computador "mainframe" Amdahl simultaneamente através de Terminais VM3270 (ver Partes 5 e 6). Mas, como aluno de pós-graduação em Ciência de Computação e Comunicações, eu tive a oportunidade de trabalhar como consultor ao Centro de Computação, aplicando conceitos da área de pesquisa, e efetivamente planejando e acompanhando suas implementações práticas no serviço de computação da Universidade. Isso me deu uma janela privilegiada para ver o impacto da tecnologia na sociedade (a Universidade de Michigan tinha na época 40.000 alunos e um corpo docente de +/- 10.000 professores, portanto a comunidade alvo dos serviços de computação da Universidade era uma amostra significativa de 50.000 pessoas!).
Muita água passou por baixo dessa ponte, mas duas dessas experiências foram bastante significativas para a evolução que é o nosso assunto aqui; passo a narrá-las a vocês. Ambas têm a ver com as duas forças maiores já mencionadas várias vezes ao longo desta série: Miniaturização dos dispositivos de processamento, e Digitização da comunicação analógica, incluindo a da voz humana, alvo já conquistado pela telefonia (ver Parte 1). A comunicação entre os Centros-satélite e o computador localizado no Centro de Computação era feita através de cabos dedicados, troncos de cobre, e portanto transmissão analógica. Como tudo que acontece dentro do computador (e dos terminais) é digital (0s e 1s), há a necessidade de converter a informação de digital para analógica (terminal para o cabo), e depois outra vez de analógica para digital (cabo para o computador); isso é efetuado por dispositivos chamados MODEM ("MOdulator - DEModulator") que não carecem de maiores explicações aqui, mas que precisam existir tanto junto aos terminais, como junto ao computador. Na verdade, esses dispositivos existem até hoje nos aparelhos modernos, mas isso é para mais tarde na nossa viagem.
Um dia participei de uma conversa no Centro de Computação com o seguinte teor: por que não usamos os cabos de telefonia (cobre) para comunicação, e associamos um dos modems aqui a um número telefônico, aí alguém com um modem associado ao seu telefone poderia ter acesso remoto ao computador, sem ter de ir ao Centro-satélite, apenas ligando de seu telefone para aquele número. ACESSO REMOTO! IMAGINEM!! É claro que precisaríamos de um terminal junto ao telefone, e os terminais VM3270 eram caros, além de não terem qualquer outra utilidade.
Mas fiquei encafifado, e me ofereci para testar a alternativa: havia uma excitante! A Miniaturização dos dispositivos de processamento começava a gerar os primórdios dos computadores pessoais, e eu adquiri um "EXIDY Sorcerer", um dos primeiros disponíveis comercialmente. Pràticamente um teclado com um processador dentro, e conexões para um monitor, um modem, e um dispositivo genérico através de um pino RCA. Nenhuma memória permanente, como uma fita ou disco magnéticos, só memória (64 Kb) que só é ativa quando o computador está ligado, ou seja, ao desligar, perdia-se tudo que estava na memória. Mas o objetivo era um só... o acesso remoto.
Conectei uma velha TV branco e preto 14 polegadas como monitor, e um modem daqueles para telefones antigos, com os receptáculos para o encaixe da peça que levávamos à face com o microfone e o alto-falante.
Havia necessidade de um programa que sincronizasse a comunicação dos modems, e como nada podia ser guardado permanentemente no "Sorcerer", eu usava uma fita cassete em um gravadorzinho daqueles que usávamos para gravar e ouvir música em fita cassete, ligado ao computador através de um cabo que ligava a saída para o fone de ouvido do gravador ao pino RCA do computador.
Com essa gambiarra em cima da minha mesa em casa toda ligada, eu nunca vou esquecer do dia em que eu disquei o tal telefone do modem da Universidade, ao ouvir o modem responder, coloquei o fone no modem em cima da minha mesa, e apertei o botão "PLAY" no gravadorzinho, e após alguns segundos ansiosos, vi o cursor do MTS piscar na tela da TV. Em pouco mais de um ano, fui de ter de acordar às 2:30 da madrugada e me deslocar fisicamente ao prédio de um computador para usá-lo diretamente (ver Parte 6), para usar um a hora que eu quisesse da minha mesa de trabalho. Naquela época, era como um MILAGRE! A segunda experiência comporá a Parte 8. Não percam a continuação desta nossa viagem fantástica!
Postado por Claudio Spiguel
Em
17/7/2015 às 17h09
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