BLOGS
>>> Posts
Domingo,
9/8/2015
Homenagem a Orestes Barbosa
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
+ de 2500 Acessos
"Tu pisavas os astros, distraída". Não há quem não conheça este verso de Orestes Barbosa. Orestes nasceu na Aldeia Campista ─ região que hoje faz parte de Vila Isabel. Quem nasceu na Aldeia Campista, renasceu na Vila. É cidadão da Vila. E eu queria saber da casa onde nasceu Orestes.
Em Vila Isabel, a fábula desenha o dia a dia. Da Vila, muito mais pode ser dito. E, de Orestes Barbosa, muito mais deveria ser dito. Em Vila Isabel, todo poeta fala de amor. Ao visitar o bairro, relembrei o tema do amor saudoso nos versos de Orestes:
"E, hoje, quando do Sol a claridade
Forra meu barracão, sinto saudade
Da mulher ─ pomba-rola que voou..."
Entre poesia, fato e curiosidade, eu queria saber do berço de Orestes na Pereira Nunes. Fui à Prefeitura. Voltei ao bairro. Andei pelas ruas. Perguntei. Bem recebida por gente que nada sabia, outros não me quiseram ver nem por telefone. A casa? Um chalé, confirmaria Carlos Didier.
Por fim, cheguei a certo prédio construído no lugar do antigo 47 ─ da Rua Pereira Nunes ─, onde nasceu Orestes Barbosa. "A verdade, meu amor, mora num poço (...)", já dizia Orestes numa parceria com Noël. Entre arquivos e documentos, sonhar é preciso. E, num cafezinho, gentil senhor: ─ "Ora, pois, que não morais na Vila?"
Das andanças ao imaginário, dei crédito à poesia. E, assim, recordações se tornaram imagens na voz que me falava das pipas e papagaios, do futebol e das casas d'antanho. Em 1939, com oito anos, chegara ao bairro Seo Armindo, que, num cafezinho, me emprestou oitenta décadas de memória:
"De Orestes Barbosa? Conheço bem o Chão de Estrelas, musicado pelo Sylvio Caldas. Chalés? Muitos havia na região. Ora, pá, claro que me lembro do antigo 47 da Pereira Nunes. Era marrom. Depois, pintaram de verde. No telhado, branquinhos os pináculos." E em tom lusitano: "Minha vida era um palco iluminado."
Em frente ao edifício da década de 1960, saltei aos idos de 1993 ─ e eu defronte ao chalé onde nasceu Orestes. No alpendre, Dona Maria Angélica, numa cadeira de balanço. No colo, o menino olhando o tempo a vazar a renda de madeira branca que enfeitava os beirais. Do telhado, pináculos branquinhos saltavam em direção às nuvens.
Despertando da imaginação, cheguei à Avenida 28 de Setembro. Entre partituras transcritas nas calçadas por ocasião do Quarto Centenário do Rio, cintilavam versos de Chão de estrelas:
"A porta do barraco era sem trinco,
Mas a Lua, furando o nosso zinco,
Salpicava de estrelas nosso chão..."
Naquele chão, uma estrelinha brincando de esconde-esconde. Poesia, poesia, aonde vais? Abre agora, chave-mestra, abre a gaveta do arquivo. Lá estão meus versos em memória de Orestes Barbosa:
Ave noturna ao sono da fadiga,
distraída, voei tão longeperto,
indo pousar no amorável deserto
aos pés da noite que sempre me abriga.
Do amor, desejo que me bendiga!
Eu, mulher noturna e amante do incerto,
em meu ninho na lua e a céu aberto,
da luz e da paixão me fiz cantiga.
Se de mim te restou esta saudade,
de corpo inteiro ainda nos invade
uma alegria que nos faz chorar.
Cabelos e roupas em desalinho,
nas estrelas e em teus braços aninho
pluma e carícia do meu caminhar.
Distraída, pisando notas musicais, acenei pro Seo Armindo. Na bolsa, o endereço da outra casa de Orestes Barbosa, em Paquetá, que visitei no dia seguinte.
Postado por Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
Em
9/8/2015 às 08h58
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|
|