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Quarta-feira,
12/8/2015
1992 e hoje
Julio Daio Borges
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Um amigo mais jovem me escreve perguntando se eu estive na manifestação dos caras-pintadas em 1992. Segundo ele, uma revista semanal quer fazer uma reportagem com gente que foi em 1992 e que vai agora, no dia 16...
Respondi para ele que vou sondar entre o pessoal da minha geração. Mas já adiantei que acho muito difícil alguém que tenha ido pedir o impeachment de Collor em 1992 e que vá pedir o impeachment de Dilma em 2015.
Não fui na manifestação de 1992. Lembro que caiu numa sexta-feira. Apareceram ônibus na minha faculdade para transportar as pessoas. Eu acompanhava os desdobramentos pela televisão - via Jô Soares e Boris Casoy - mas não era "anti-Collor" o suficiente, a ponto de me deslocar até o Masp...
Meu ponto é que os engajados de 1992 eram "de esquerda". Inconformados com a derrota de Lula em 1989. Havia gente no oba-oba, claro. Telespectadores de "Anos Rebeldes". Ávidos por fazer história com as próprias mãos... "Como os nossos pais" etc.
Hoje, em contrapartida, quem vai pedir o impeachment de Dilma é "de direita". Para o bem ou para o mal. Claro que vamos encontrar lá o Roberto Freire, ex-PCB, como encontramos (eu e esse meu amigo do início do texto). E algum PSDBista súbito. Mas são exceções. O grosso do público é aquela "classe média" execrada pela Marilena Chauí. Alguma classe alta que ainda se digna a andar nas ruas. Também exemplares da classe C que "acordou"...
Tirando as diferenças de "público" nas respectivas manifestações, o que há de parecido entre Collor (1992) e Dilma (2015)? Foram eleitos democraticamente, se isolaram politicamente, perderam apoio do Congresso, foram acossados por escândalos, denúncias, terminaram fracos e caíram. Todo mundo lembra do impeachment de Collor, mas ele, na verdade, renunciou. (Dilma já tem sua carta-renúncia pronta...)
Acontece que Dilma não daria um Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti. Quem leu o livro, sabe que Collor foi um fenômeno - para o bem e para o mal. Dilma é uma construção, não tem nada de próprio, uma burocrata alçada à Presidência da República. Típica exemplar daquele segundo escalão anódino do "PT que sobrou"...
Outra diferença é que o PC Farias do PT é o José Dirceu. Não tem nenhum "gênio do mal" no governo Dilma. Lula? E o Marcos Valério, não está mais para PC? E o Youssef? O "Paulinho do Lula"? Quanto mais nomes aparecem na Lava-Jato, mais falta um "cérebro"... E esse cérebro *não é* Dilma... (Nem ninguém da equipe dela...)
Por fim, acho as pessoas mais politizadas agora. Na média. Mais por dentro do noticiário político, quero dizer. Eu sei que "politização" é outra coisa. Mas o noticiário já é um começo. Tudo bem que a Globo, no seu governismo histórico, está "contra" agora. E, em 1992, esteve "a favor". Embalou as pessoas etc. 1992 ainda era da televisão... 2015 é da internet.
"O Renan Calheiros é o mesmo", vão dizer... É o mesmo? Temos julgamento das contas no TCU, dinheiro suspeito abastecendo a campanha eleitoral... Dilma pode cair por improbidade administrativa. Sua chapa pode ser cassada... Mas, apesar de as instituições estarem funcionando, temos de fazer a nossa parte igualmente. E a nossa parte não é ficar nas redes sociais. Nem só batendo panela na frente da TV...
Daqui a algumas décadas alguém pode te perguntar se você esteve no 16 de Agosto de 2015... Eu espero ter uma resposta mais elaborada do que dizer que, como em 1992, foi mais "um embalo de sábado à noite"... (Ou de sexta à tarde...)
Para ir além
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Postado por Julio Daio Borges
Em
12/8/2015 às 17h42
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