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Quarta-feira,
19/8/2015
A banda passa, a música fica
Flávio Sanso
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A banda não passou. As pessoas é que passam, mas há quem pare para vê-la. No domingo de feira, a banda está instalada no vão do prédio da biblioteca. Não é do tipo de banda que passa, é uma banda imóvel. Todos os músicos estão dispostos em cadeiras. O maestro tem muitos anos de idade, tem muitas debilidades. A batuta é o que lhe mantém de pé, a batuta é o que lhe mantém a vida.
Entre saxofones e clarinetes, o som da bateria é o que mais se destaca. Sinto curiosidade em examinar a técnica. É o que me leva para próximo do setor de percussão, a última fileira de músicos. Enquanto toca, o baterista conversa, olha para os ouvintes. É mais ou menos parecido com o que faz Ronaldinho Gaúcho nas ocasiões em que olha para um lado e, num lance de habilidade, toca a bola para o outro.
Há muitas ocorrências ao redor da banda. Tão pequeno que os tênis parecem engolir-lhe os pés, o menino dança, atrai atenções, atrai também a mira do celular do avô. O menino ignora o fato de estar sendo filmado, continua a dança, ainda não tem idade para se preocupar com poses, só o que quer é dançar. A mãe se aproxima, agora são dois a dançarem do mesmo modo. É a vez de Frank Sinatra. Há também outros que dançam aos pares. De repente o cachorro levanta as orelhas e as mantém bem erguidas. Cochicho com meus botões a constatação de que Frank Sinatra é bom também pra cachorro. A primeira impressão é quase sempre uma ingenuidade. O que faz o cachorro redobrar atenção é a aproximação de outro exemplar da espécie, que só está de passagem, não arrisca desagradar quem está ali desde o início. E a banda continua. My way alcança o ápice, é aquele ponto da música em que as pessoas suspiram, mexem a cabeça em sinal positivo. Como são bons, diz a emocionada senhorinha. Aplausos.
No domingo à tarde, o vão do prédio da biblioteca está vazio. Não há música, só o que provoca barulho é o desmonte das barracas de feira. Onde estará o menino dançante? E o cachorro? E todas as testemunhas do espetáculo? Faz tempo todos já se foram. É que tudo passa, tudo haverá de passar. A banda, inclusive a banda imóvel, também passa.
Texto originalmente publicado no site reticencia.com
Postado por Flávio Sanso
Em
19/8/2015 às 10h24
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