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Quinta-feira,
20/8/2015
A Incômoda Normalidade Democrática
Fabiano Leal
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A quem a democracia tanto incomoda?
A pergunta é legítima diante das declarações do ministro da Comunicação Social Edinho Silva, quando disse que os protestos ocorreram dentro da normalidade democrática. Na entrevista coletiva, conclamou os brasileiros a acreditarem no Brasil e disse que o momento é de diálogo. Mas, com a sutileza paquidérmica que caracteriza os petistas, frisou também que as manifestações tinham uma agenda que pedia o "fim da democracia". Em nota, o PT seguiu a mesma toada, apontando para os propósitos conservadores e antidemocráticos e, no final, incita à militância a defender o governo.
Ora, em que pese à participação de conservadores, as manifestações reuniram grupos dos mais diferentes matizes políticos. E, diante de um espectro tão amplo, e mutável a cada protesto, se mostra pouco útil aplicar um rótulo, tal como nossa cultura política oficial tanto gosta de fazer. Assim, não conviria chamar pautas que clamam pelo combate à corrupção, à observância as regras do orçamento, reforma política e a defesa dos valores da ética e da liberdade, como exemplos de um pendor antidemocrático. Mesmo o impeachment é uma reivindicação legítima. Pois, este não figura na Constituição? Se a população está ou não a par dos meandros do processo legal, aí já são outros quinhentos. O que não dá para dizer é que se trata de um genuíno furor golpista com tem sido freqüentemente alegado.
Já ao pedir diálogo, o ministro apontou para o momento de intolerância em que vivemos. Só que mirou um só lado, como deixou implícito na coletiva, como se aqueles que saíram à rua neste último domingo, encarnassem o emblema derradeiro da intolerância. Afinal, a intolerância é uma doença típica do universo petista; sempre refratário que é às críticas, mesmo se essas se fazem acompanhar de sólidas evidências. Uma intolerância que não vem de agora. Trata-se de algo que há muito faz parte do DNA de um partido que sofre da febre de "nostalgia soviética" em que o efeito mais visível consiste em dividi o mundo de forma maniqueísta. Como se só a eles fosse dado o privilégio de conhecer o lado certo da história. Desse modo, nada mais parecido com alguém que pede a volta da ditadura, do que um petista, pois ambos insistem, teimosamente, em acreditar em soluções que não se aplicam mais ao nosso tempo.
O governo, disse também o ministro, vai trabalhar para superar as dificuldades que levaram às manifestações. A questão é que, para os que protestaram, o governo é parte do problema e não a solução. E é a parte principal. As pessoas já sabem o óbvio: que as dificuldades não são de ordem puramente econômica. Ao contrário, que por trás da crise da economia, estão ilusões ideológicas de um projeto monopolista de poder, tanto político quanto econômico, conjugadas a uma grave crise de representação em que o sistema político já não responde aos desafios da sociedade. E, para o qual, o PT contribuiu fortemente para enfraquecer ao presumir que manteria a base aliada cativa aos seus anseios se lhes fornecessem uma ração mensal de propina, na vil esperança de cessar, definitivamente, a natureza competitiva intrínseca ao mundo político.
A crise, portanto, é política. E, dificilmente, será superada pelo otimismo irreal que o governo atribui a uma possível melhora nos indicadores econômicos. Isto, quando muito, facilitaria a reconquista de alguma popularidade, mas longe do que se viu no passado, tendo que conviver com um país, cujo conflito político se fará mais presente no cotidiano.
O fato é que a população associa, corretamente, corrupção ao governo e que esta se tornou indissociável da imagem da presidente e do Lula. Simplesmente, porque não é possível esconder que o "sistema PT", com bem designou a escritora Rosiska Darcy de Oliveira em sua última coluna no Globo (15/08/2015), foi de uma organicidade modelar, ao ponto que as digitais do planalto se tornarão indisfarçáveis.
Nesse ínterim, cabe afirmar que os brasileiros continuam acreditando no Brasil. Só não acreditam mais é no governo.
Em meio à convulsão governista, o mais grave é o planalto insistir em noções de democracia e legitimidade que satisfaz o gosto do partido e das tradicionais platéias circenses, mas que estão em profunda dissonância com o que diz a regra da lei. Isto é, a legitimidade do voto não é um cheque em branco para flertar livremente com a irresponsabilidade à revelia das instituições formais e as da sociedade civil. Nesse sentido, o significado da democracia nem é relativístico ou, como pensam muitos, propriedade de um único partido.
O que se esconde sob um pacato dia de céu azul?
Manifestações que passam ao largo da normalidade. E que deveras aborrece a retórica dos que estão assentes no poder. Manifestações que não podem ser subestimadas, já que são exemplos não de menos, mas da luta por mais democracia que ressurge, justamente, nas ruas e com o qual o PT, em especial, e os demais partidos têm muito a aprender.
Logo, os que propalam que isto ou aquilo é antidemocrático, conservador, intolerante ou pró-ditadura, estão na verdade dizendo, nesse caso, mais a respeito de si mesmos, como faz a presidente e o PT, dos que dos seus críticos.
Postado por Fabiano Leal
Em
20/8/2015 às 18h08
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