Os olhos de Sancha | Flávio Sanso

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Terça-feira, 25/8/2015
Os olhos de Sancha
Flávio Sanso
+ de 1700 Acessos

Em acréscimo ao muito do que já se discutiu sobre a verve psico-enigmática presente em Dom Casmurro, ouso expor minha percepção, a qual é possível que alguém já tenha abordado, com melhores credencial e técnica. Seja como for desculpo-me antecipadamente caso não me faça original.

Controlado pela genialidade machadiana, Bentinho, um dos mais intrigantes narradores da nossa literatura, captura e depois direciona a atenção do leitor para o que parece ser apenas o relato objetivo das memórias da sua vida. No entanto, lá pelos três quartos do livro instaura-se uma mudança que sacode toda a estrutura narrativa até então vigente. E é o próprio narrador que anuncia a tal mudança:

"Tudo acaba, leitor; é um velho truísmo, a que se pode acrescentar que nem tudo o que dura dura muito tempo."

Nesse aspecto, há uma cena que funciona como o divisor de águas da trama: Bentinho/Capitu e Escobar/Sancha - os casais inseparáveis - estão reunidos em mais um de seus corriqueiros encontros. Escobar aproxima-se de Bentinho e lhe promete anunciar, no dia seguinte, um projeto para os quatro. Logo em seguida é a vez de Sancha se aproximar de Bentinho. Pedindo segredo, ela lhe confidencia o que seu marido apenas deixara no ar. O projeto era a viagem em que os quatro iriam juntos à Europa. Deixemos a parte principal da cena a cargo do próprio narrador:

"Sancha ergueu a cabeça e olhou para mim com tanto prazer que eu, graças às relações dela e Capitu, não se me daria beijá-la na testa. Entretanto, os olhos de Sancha não convidavam a expansões fraternais, pareciam quentes e intimidativos, diziam outra coisa, e não tardou que se afastassem da janela, onde eu fiquei olhando para o mar, pensativo. A noite era clara.Dali mesmo busquei os olhos de Sancha, ao pé do piano; encontrei-os em caminho. Pararam os quatro e ficaram diante uns dos outros, uns esperando que os outros passassem, mas nenhuns passavam. Tal se dá na rua entre dois teimosos. A cautela desligou-nos; eu tornei a voltar-me para fora. E assim posto entrei a cavar na memória se alguma vez olhara para ela com a mesma expressão, e fiquei incerto. Tive uma certeza só, é que um dia pensei nela, como se pensa na bela desconhecida que passa; mas então dar-se-ia que ela adivinhando... Talvez o simples pensamento me transluzisse cá fora, e ela me fugisse outrora irritada ou acanhada, e agora por um movimento invencível... Invencível; esta palavra foi como uma bênção de padre à missa, que a gente recebe e repete em si mesma."

A partir dessas reflexões abrem-se comportas que inundam o texto de uma subjetividade avassaladora. Bentinho descreve o modo como interpreta as atitudes de Sancha, conforme suas próprias conclusões, as quais certamente podem não corresponder à realidade dos fatos. O que temos é a versão do narrador, entre tantas outras possíveis. Caso fosse lhe dada a oportunidade do contraditório, Sancha bem poderia dizer que a troca de olhares foi ocasional, sem qualquer conotação que excedesse os limites da amizade existente entre os dois. Note-se que, logo depois, o próprio Bentinho reconsidera sua impressão inicial:

"Tinha já comparado o gesto de Sancha na véspera e o desespero daquele dia; eram inconciliáveis. A viúva era realmente amantíssima. Assim se desvaneceu de todo a ilusão da minha vaidade."

O episódio mencionado acima é um componente importante do contexto em que começam a ganhar corpo as suspeitas de Bentinho quanto ao suposto caso extraconjugal entre sua mulher Capitu e seu melhor amigo Escobar. E é novamente um olhar que orienta as suas ilações. Um olhar que Capitu direciona a Escobar desencadeia uma série de angústias que evoluem desde a desconfiança até a mais inexorável das certezas, cujo símbolo é o fato de que Ezequiel, filho de Bentinho e Capitu, carrega consigo, à medida que cresce, a aparência de Escobar cada vez mais inequívoca e perturbadora. Chega-se então à inevitável pergunta: se Bentinho já havia se enganado antes, dando interpretação torta ao comportamento de Sancha, por que também não estaria errado em relação ao julgamento que aplica a Capitu, sobretudo se levado em conta o confesso ciúme que sempre o rodeou?

De qualquer forma, a solução definitiva só viria mesmo se Machado de Assis pudesse dar voz a Capitu em um romance no qual prevalecesse a outra versão. Poderia até servir para esclarecer nossas dúvidas. Talvez não. Machado de Assis saberia como nos confundiria ainda mais.


Texto originalmente publicado no site reticencia.com


Postado por Flávio Sanso
Em 25/8/2015 às 11h13

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