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Quarta-feira,
2/9/2015
Cartografia de uma terra imaginária
Guilherme Carvalhal
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Italo Calvino deixou em seu trabalho literário uma das mais belas fantasias do século XX, o livro As Cidades Invisíveis. Esse é um livro que prima pelo formato como a história é conduzida e pela alta criatividade com que é apresentado ao leitor.
O livro gira em torno das viagens de Marco Polo e de seu encontro com o imperador Kublai Khan, neto de Gengis Khan. Desconhecendo a própria vastidão de seu reino, o imperador recebe do viajante a descrição das muitas cidades que o compõem.
Cada capítulo do livro é a descrição de uma dessas cidades. Marco Polo vai descrevendo a arquitetura, a geografia e as pessoas que formam cada uma delas, em uma rica profusão de detalhes variados. É nesse ponto que está o brilhantismo de Calvino, por conseguir elaborar uma ampla rede de locais, cada um com suas particularidades, assemelhando a um livro de viagens por uma terra imaginária.
A descrição das cidades se divide em alguns temas, como As Cidades Contínuas, As Cidades e o Céu, As Cidades Ocultas. Cada um desses temas aglutina cidades com características específicas: nos capítulos As Cidades e a Memória, o tempo tem relevância. Nos capítulos As Cidades e o Desejo, a exuberância e os atrativos da cidade são mais evidentes.
Além de ser uma obra de imensa criatividade, esse trabalho de Italo Calvino é de um profundo senso humano. Ao longo da descrição das cidades, Calvino acaba abordando aspectos variados das pessoas. Por exemplo, na cidade de Ercília as relações são feitas através de fios entrelaçados entre as casas, definindo parentesco, autoridade, etc. Quando os fios se tornam volumosos, as pessoas reconstroem a cidade em outro lugar, deixando um rastro de moradias abandonadas. Esse pequeno trecho dá muitas oportunidades de interpretação, como o inchaço de relações que levam as pessoas a abandonarem o panorama anterior ou alguma referência a revoluções, mudando completamente a sociedade.
Na cidade de Melânia, existem papéis que são interpretados pelas pessoas, com diálogos fixos. Quando as pessoas morrem, outras assumem o papel deixado, perpetuando ao longo dos tempos uma mesmice existencial que muda com muita vagareza. Em Eudóxia, um grande tapete se estende ao longo da cidade e sua urdidura representa toda a própria cidade. Mais além do que a cidade, ele demonstra toda a estrutura e as pessoas podem até ver a si mesmas ali, entendendo sua vida e seu futuro nele. A cada cidade algo concernente à existência é discutido.
A leitura de As Cidades Invisíveis é interessante por esses dois vieses, um o da suprema criatividade em elaborar todo esse universo e outro pelos questionamentos que ele leva ao leitor. Foi um verdadeiro serviço de cartografia não apenas geográfica, mas também humana, o que o escritor produziu.
Postado por Guilherme Carvalhal
Em
2/9/2015 às 22h03
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