BLOGS
>>> Posts
Quarta-feira,
16/9/2015
A Teoria de Tudo
Julio Daio Borges
+ de 28200 Acessos
Uma das primeiras vezes em que ouvi falar de "Uma Breve História do Tempo" foi em 1988, num "vestibulinho", do colégio Santa Cruz.
Lembro que saí de uma das provas e uma menina que sentava perto de mim, e com quem eu flertava, veio me dizer que a resposta para uma das questões era: "Uma Breve História do Tempo", de Stephen Hawking.
Confesso que achei "avançado" para a época. Imagine, um "vestibulinho" citando uma obra contemporânea, que tinha acabado de sair... E uma menina de 14 anos (bonita) sabendo do que se tratava...
A imagem que eu tinha dele, Hawking, era a do cientista entrevado, naquela cadeira de rodas - se comunicando eletronicamente, graças alguns parcos movimentos de um dos dedos...
Mas eu não imaginava que ele tivesse escrito *o livro inteiro* desse jeito... Me lembrou "O Escafandro e a Borboleta", em que ao protagonista só resta o "piscar" de um único olho. (E ele, também, escreve um livro inteiro desse jeito...)
"A Teoria de Tudo", o filme, é lindo (a Carol já havia me dito). E o contraste entre um cérebro tão poderoso e um corpo tão frágil é um drama humano e tanto.
Stephen Hawking não nasceu paralítico. Foi perdendo os movimentos progressivamente. Foi sentenciado a dois anos de vida, apenas. Mas vive, assim, há mais de cinquenta...
A mulher dele, Jane Hawking, também é um colosso. Sem ela, ele não teria sobrevivido. A força de vontade da mulher, em alguns momentos, é maior do que a dele. Maior do que a dos pais dele, do que a da própria família dele...
E o inusitado do filme é um triângulo que surge, quando um professor de música resolve "ajudar" Jane a cuidar de Stephen Hawking. Mas, como todo o triângulo amoroso, não é tão simples. E, aparentemente, Hawking "consente"...
Outro triângulo surge, mais pra frente. Quando aparece uma "cuidadora" (mulher) para o próprio Hawking. Aí a coisa se inverte. E é tocante quando ele confessa o "romance" para Jane, todo paralisado, através daquela voz robótica... (Acabam se separando, mas são amigos até hoje.)
Um dos aspectos mais impressionantes de Hawking, além do seu gênio, e da sua capacidade de adaptação, é o seu senso de humor. Que permanece intacto, à medida que a paralisia avança. E que permanece até hoje, em entrevistas que ele dá...
Até hoje não li "Uma Breve História do Tempo". Mas recebi, recentemente, a edição da Intrínseca - e fiquei com vontade de ler. No prefácio, Hawking brinca que vendeu mais livros sobre Física do que Madonna sobre sexo...
Não acho que ele vá chegar à sua "teoria de tudo". Hoje tem mais de 70 anos. Einstein, igualmente, procurou a sua, ao longo da vida. Mas morreu sem entender direito a física quântica. "Deus não joga dados" é sua frase célebre a respeito, citada, inclusive, no filme...
É aflitivo pensar que o tempo tem um "começo" e, mais ainda, um "fim". E que seremos "implodidos", em algum momento, como num buraco negro. Qual o sentido do que estamos fazendo agora? Sobra algum sentido?
Talvez por isso a questão do ateísmo de Hawking seja permanente. Porque a "vacuidade" de um universo que se expande e se contrai indefinidamente é algo para além da nossa capacidade... Pois temos consciência e não temos para onde "fugir"...
Acabei não passando no "vestibulinho" do Santa Cruz. E aquela menina acabou passando, acreditam? No ano do vestibular, avistei ela num evento musical do colégio... Devia ter perguntado: "Você leu mesmo aquele livro? Ou só estava tentando me impressionar com seus conhecimentos de Física?"
Para ir além
Compartilhar
Postado por Julio Daio Borges
Em
16/9/2015 às 11h07
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|
|