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Sábado,
19/9/2015
Assistindo ao debate dos candidatos nos EUA
Julio Daio Borges
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Quarta-feira passada, aconteceu o segundo debate entre os candidatos republicanos à presidência dos EUA
Pode parecer distante de nós, mas não é. O escritor mexicano Carlos Fuentes dizia que todo cidadão do mundo deveria ter o direito de votar nas eleições para presidente dos Estados Unidos
Para além do impacto que essa eleição tem para o mundo todo, para nós, brasileiros, é interessante acompanhar - até para efeito de comparação
Se você ainda acha que os temas podem ser muito específicos, ou circunscritos aos Estados Unidos, eu te digo que não são. Lembre-se de que, como tudo nos EUA, e na televisão, o debate tem de ser minimamente interessante - pois ninguém é obrigado a votar lá...
Minha curiosidade era pelo Donald Trump, de quem falam tanto (e tão mal). Igualmente pela Carly Fiorina, ex-CEO da HP, que tem sido muito elogiada. E, ainda, por Jeb Bush - que, embora seja um Bush, dizem que é o melhor dos três
Falando da forma, o debate é muito dinâmico e não se perde, como no Brasil, um tempo enorme explicando as regras. O debate começa e você nem percebe. As respostas duram, no máximo, um minuto. E todo mundo, mais ou menos, respeita o tempo
O mediador - impressionante - consegue ser mais rápido do que todos os candidatos juntos (eram onze). E eu não sei como, mas ele consegue dividir os tempos, mais ou menos, entre todos. Quando um candidato fica mais "esquecido" pelos outros, ele direciona uma pergunta específica para ele. Nunca deixa cair a peteca e todo mundo acaba falando
Não existem perguntas de um candidato para o outro, como no Brasil. O próprio mediador seleciona trechos de declarações, na imprensa, de um candidato sobre o outro - e sugere que quem foi criticado comente a declaração do outro. O mediador deliberadamente joga um candidato contra o outro. E logo no primeiro bloco. Afinal, é um debate!
Entrando na performance de cada um, o mais divertido é o Trump. Provavelmente porque ele foi apresentador de televisão. No Brasil, seria, mais ou menos, como ter o Silvio Santos num debate. É tão grande a sua intimidade com a câmera que, na TV, ele praticamente domina e ofusca os outros
O mais equilibrado, por incrível que pareça - depois de sua família invadir o Kuwait e o Iraque -, é o Jeb Bush. Talvez porque, em política, seja o mais experiente (também, com dois presidentes na família...). Ele me parece muito sereno e judicioso. Mas por ser, justamente, muito "bonzinho", termina atropelado pelos candidatos mais agressivos, como Trump
A Carly Fiorina se revelou, de fato, a grande surpresa do debate. Talvez seja a maior inteligência entre os candidatos. Como foi presidente de empresa, sabe, igualmente, se dirigir à audiência. É muito concisa, tem a capacidade de resumir uma questão complexa em alguns pontos básicos, é muito assertiva e consegue se manter impassível, mesmo quando atacada. Vão dizer que estou torcendo pra ela, mas me lembra a Margaret Thatcher
Como não poderia deixar de ser, alguns dos melhores momentos foram os embates entre Trump e Fiorina. Ele, porque é agressivo naturalmente, e quer se manter na liderança (entre os republicanos, está na frente); ela, porque é uma estrela em ascensão, e precisa subir nas pesquisas
Como um exemplo de tudo o que estou falando, Trump disse à Rolling Stone, comentando uma foto da Fiorina: "Olha essa cara! Você votaria *nisso*?". No meio do debate, o mediador trouxe essa declaração à tona e pediu para Fiorina comentar. Trump ficou super sem graça, óbvio, e tentou consertar: "Eu quis dizer que ela é uma mulher bonita". Fiorina, claro, não perdeu a chance: "As mulheres dos Estados Unidos sabem muito bem o que o senhor quis dizer, Mr. Trump". Foi ovacionada
Embora seja um debate dos candidatos republicanos, questões de gênero entram na pauta. E os candidatos procuram ser representativos, quando se pensa na população dos EUA...
Assim sendo, há um candidato negro, o Dr. Ben Carson, que é um neurocirurgião (os candidatos que não são políticos profissionais têm feito sucesso nesta eleição). Ele também é do tipo bonzinho, só que sem a malícia de um político experiente como Jeb Bush. Tem muito carisma pois é um homem simples. Fala com sinceridade, mas não é simplório. Impossível não gostar dele. Mas acho que, no meio de tantos tubarões, não tem chance
Outro candidato "representativo", digamos assim, é o Marco Rubio, ou "Marc" Rubio, que é "latino". Neto de um cubano que fugiu para Miami, e que nunca aprendeu inglês direito, Rubio chegou ao Senado, embora sempre diga que é filho de um "bartender" (um garçom) e de uma "maid" (uma arrumadeira). Não se faz de coitado, porém. É muito inteligente. Fala muito bem. E é outra estrela em ascensão. Mas acredito que será uma candidato mais forte no futuro. É "jovem" em relação aos outros (tem menos de 50 anos)...
É interessante como a "superação" é um ponto em comum entre quase todos os candidatos. Fiorina gosta de dizer que começou como secretaria e que chegou à presidência de uma empresa. Trump gosta de dizer que fez "bilhões", que é um "business man", que sabe lidar com pessoas, e com contratos - e que não é financiado por ninguém, além dele próprio
Financiamento de campanha foi um tema, igualmente. Ben Carson, por exemplo, se financia através de uma espécie de crowdfunding. Também "política externa" foi um tema - e Trump foi o mais atacado nessa hora, por causa de suas declarações belicosas. Trump é um boquirroto e ninguém parece muito convencido a lhe entregar todo o arsenal atômico...
Há consenso, entre os candidatos republicanos, de que a administração Obama fraquejou no Oriente Médio. E que o crescimento do Estado Islâmico e do perigo na Síria, também na Coréia do Norte, são resultado de uma política externa pouco firme - por parte da administração democrata...
O 11 de Setembro - of course - é um tema recorrente. Mas também as drogas e o aborto. Casamento gay, menos. Jeb confessou que fumou maconha na adolescência, mas todos parecem concordar, inclusive ele, que a maconha é uma "porta de entrada" para outras drogas - e não deve ser liberada. Carly Fiorina tem um filho dependente químico e falou com tristeza sobre isso
Em linhas gerais, foi assim. Recomendo fortemente que se assista. Está tudo no YouTube. São alguns blocos de pouco mais de 20 minutos cada. É um debate denso, mas todas as questões nos dizem respeito, de um modo ou de outro. Fora que há sempre muito o que aprender com a maior democracia do mundo...
Para ir além
Postado por Julio Daio Borges
Em
19/9/2015 às 11h45
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