Ele não é só casamenteiro. Por isso volto aos milagres de Santo Antônio. No Rio, quando chove, tudo vira um desastre. Engarrafamento, bueiro entupido, poça d'água na calçada etc., e muito mais. A caminho do almoço, passando perto do Convento de Santo Antônio, me lembrei desse santo milagroso: ─ Meu Santo Antônio, onze e meia, será que o tempo não vai melhorar?
No antigo bar da rua da Carioca, me sentei de costas pra porta. Do alto, presa à parede do fundo, direcionou-se aos meus olhos curiosa travessa de louça. No centro, uma estatueta de Santo Antônio rodeado de dizeres: Prato da Casa, Prata da Casa e Santo de Casa fazem milagre. Era verdade. E no plural. Que milagres!
Entre as surpresas do dia, Santo Antônio, ele mesmo, vestido de garçom me entregou o cardápio:
─ E pra beber?
─ Guaraná sem gelo.
A seguir, outra grande bênção! Na cozinha, chapéu de Mestre Cuca, Santo Antônio, em pessoa, preparou a comida. Depois, trouxe à mesa maionese de batatas com mostarda e rosbife no ponto certo.
Ao sair, a chuva cessara. Táxi à minha espera. Identificação do motorista: Antônio dos Anjos. E aconteceram outros milagres. Do Centro ao Flamengo, nenhuma freada brusca. Nem avanço de sinal. Nem engarrafamento. Nem bueiro entupido.
Santo de casa faz milagre mesmo. Sem esquecer que, naquele bar da rua da Carioca, provei a melhor maionese do Rio de Janeiro.
A Santo Antônio, que é vizinho, pois mora no Largo da Carioca e frequenta aquele bar da rua da Carioca, essa rua pede um grande milagre: que a proteja da especulação imobiliária e salve ─ para sempre ─ o casario antigo que habita suas calçadas históricas.
No Rio acontecem coisas que só os santos podem dar jeito. Mas o povo bem que faz a sua parte.
(Imagens localizadas no Google, sem indicação do nome do fotógrafo)