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Quinta-feira,
24/9/2015
Diário de Bordo: Festival Doces Palavras
Guilherme Carvalhal
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(Crédito da foto: Thais Tostes)
Participei nessa quinta-feira, dia 24 de setembro de 2015, de uma mesa de discussões com o tema "Literatura de Facebook - Os impactos das redes sociais na produção literária". Essa mesa fez parte da programação do Festival Doces Palavras, que está sendo realizado de 23 a 27 de setembro na cidade de Campos dos Goytacazes, tendo como tema discutir e promover a literatura, sendo realizada na sede da OAB de Campos dos Goytacazes. Também participou do debate a escritora Paula Vigneron e a mediação foi feita pelo jornalista Maurício Xexéo.
Essa mesa foi interessante para promover uma discussão referente aos impactos que as redes sociais tem causado na literatura, tanto no âmbito de quem produz quanto no de quem lê, e, de igual importância, na maneira como ocorre a intermediação entre esses dois elementos.
Algumas das ideias expostas no debate foram referentes ao aspecto ainda um tanto quanto nublado de como as redes sociais afetam a literatura. Um dos pontos que abordei seria o de que não existem grandes impactos estéticos, mas principalmente de mediação. Não há inovações na maneira de se escrever, pelo menos não na literatura que recebe maior destaque pela crítica (e que tende a funcionar como um norte para a produção literária). O diferencial tem ocorrido no contato entre o leitor e seu público, havendo uma maior possibilidade de se quebrar o modelo editorial através de um contato direto.
Entretanto, pensar a internet enquanto uma revolução na maneira como se consome literatura não é uma realidade completa. As casas editoriais ainda estão de pé e muitas de suas publicações são as que caem no gosto do público. Ou então o escritor que começa a se destacar via internet acaba aportando dentro de uma editora. Esquema de jogador de futebol: começa na várzea, mas quando um olheiro descobre seu talento, leva para um time grande. Tudo muda para continuar como está.
Novamente caímos no fator mediação. O público leitor ainda necessita de figuras com maior conhecimento literário (caso do jornalista cultural) que sirvam como referências para o que vale a pena ler ou não. E com o fechamento de tantas mídias dessa área, como a Bravo e o caderno Prosa e Verso, esse processo acaba caindo nas mãos de blogueiros. Novo caso de redes sociais mediando, sendo que existe uma necessidade de autoridade ao se falar desse assunto. Ou um blogueiro anônimo tem maior relevância ao falar do tema do que José Castello?
Um dos pontos mais relevantes desse debate é entender o impacto que as redes sociais produzem no acesso das pessoas à literatura e à leitura. Abordei a ideia de que existe um maior contato do público com a literatura, porém esse contato carece de qualidade. O modelo que encontramos atualmente tende a propulsar autores de literaturas muito próximas a um modelo pop, com temas muitas vezes simplórios e previsíveis, matando um aspecto da arte que é o de abalar o leitor.
Não se pode culpar o modelo de redes sociais como se ele tornasse a relação com a literatura pouco complexa ou rasa. Somos historicamente um país de baixa leitura, de altas taxas de analfabetismo completo há até pouco tempo e com altíssimas taxas de analfabetismo funcional hoje em dia. Então o modelo de democratização acabou levando uma grande quantidade de pessoas com uma base de educação fragilizada a ter contato com a literatura, de onde surge essa aproximação que carece de qualidade.
Esse posicionamento não é uma questão de elitismo nem de querer reduzir a importância desses autores que conseguem envolver leitores que estariam fora do ciclo da leitura, algo que é de suma importância. Esse posicionamento visa a atingir um panorama educacional que permita às pessoas conseguir apreciar modelos mais sofisticados de literatura, da mesma maneira como é desejável que as pessoas conheçam sobre qualquer outro tipo de ciência.
Uma outra intervenção se referia ao impacto das redes sociais esteticamente na literatura contemporânea. Mais do que isso, se havia um processo lento de influências que aos poucos produziriam um novo modelo textual, formando uma linguagem diferente ao longo do tempo.
A literatura hoje em dia tem sido bastante influenciada pela globalização. Um efeito lógico do mundo, tendo em vista que a arte, por mais abstrata e fantasiosa que possa ser, está relacionada com seu mundo. Basta lembrar a ficção científica da década de 1960: é uma história de fantasia que mostra como aquele período imaginou o futuro. Essas relações sempre são intrínsecas à arte.
Ao pegarmos livros de hoje em dia, vemos como termos em inglês são corriqueiros, juntamente a referências culturais, como música e seriados. A influência de um autor não se limita apenas a autores brasileiros, sendo corriqueiro ver entrevistas de autores que citam Cormac McCarthy, Philip Roth e Karl Ove Knausgård como referência. Outro fator importante é o peso da linguagem cinematográfica na literatura, o que muitas vezes torna um livro semelhante a um roteiro de cinema. Ou seja, a linguagem literária atual não é meramente um derivativo das redes sociais, mas de toda uma influência da globalização e da cultura de massas na qual as redes sociais se inserem.
A mesa foi bastante produtiva para essa troca de ideias, sendo formada basicamente por autores de cidades de interior, em um evento que visa justamente promover o fomento da produção e do acesso das pessoas à literatura. O Festival Doces Palavras é uma realização da Academia Campista de Letras (ACL), da Associação de Imprensa de Campista (AIC) e da Prefeitura de Campos.
Postado por Guilherme Carvalhal
Em
24/9/2015 às 22h59
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