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Quinta-feira,
22/10/2015
Autópsias de flores. Ou por uma causa mortis.
Aden Leonardo Camargos
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Imagem: L'Âme du monde
Não há flores colhidas que resistam ao sol. Colhidas são a pré-morte. Uma espécie de carimbo "frágil" bem ralo, mal batido numa repartição pública mofada.
Há outras maneiras de deixá-las bem mais mortas. Fazendo confete, carnaval, um segundo de festa com nome polido: homenagem. Sim é possível matar bem mais se você despetalar. Despetalar é autópsia. Descobrir a causa mortis.
Acha que é cuidado colher flor em diagonal nas hastes? É lindo campo de flores programadas para datas? É uma carnificina agendada, meu caro.
Ela floreou meu terreno. Meticulosamente ordenou linhas e talas às hastes. Foi ensinando o caminho reto de ser flor. Flor ensinada: assim pode, assim não pode. Nesse dia você venha, no outro se afaste. Tratou como tempestade uma nuvem banal. Deu uma cobertinha coberta de insegurança. Furos por toda parte. Estufa de calor. Água às vezes.
Adubou, cortou folhas. Fez da flor muito menos que outra. Num dia comercial qualquer vendeu um caminhão bem cheio. Jogou lá como coisa reciclada.
Pela estrada foram as mortes, cada uma com véu branco na cabeça segurando a decadência da leveza.
Única beleza, disse o motorista, como se elas existissem: todas exalam medo silencioso e parecem coração solto.
Toda flor que foi trocada por volta de meio-dia sofre. Quando o telefone tocou e ficou dito "não venha" foi o sol quem cegou e estragou a esperança. Lembrou da sua condução em hastes eretas. Doeu demais ser flor correta.
Foi o sol de meio dia.
Postado por Aden Leonardo Camargos
Em
22/10/2015 às 18h52
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