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Sexta-feira,
23/10/2015
Filme: Todas as Cores da Noite
Humberto Alitto
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39ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Filme: Todas as cores da noite
Diretor: Pedro Severin
Roteiro: Luiz Otávio Pereira
Elenco: Sabrina Greve, Sandra Possani, Brenda Ligia, Rômulo Braga, Giovanna Simões
Todas as Cores da Noite é o primeiro longa-metragem do diretor Pedro Severin. Conta histórias verdadeiras ou não, sobre o universo de duas colegas de infância. Iris, que vive num belo apartamento beira-mar. Que um dia, após uma festa em sua residência, encontra um rapaz morto. E Tiara, uma estudante de medicina, que atropela seu paquera depois de um desentendimento numa boate. No filme, percebemos uma impressão própria com relação a construção das imagens. Pois, diferentemente do roteiro estabelecido, suas imagens vão construindo várias possibilidades, criando universos e seus pequenos espetáculos. Daí um olhar sobre histórias que são contadas de diferentes formas. Na primeira parte, temos uma narrativa em terceira pessoa. Enquanto na outra etapa, permitiu dar voz aos personagens. Trata-se de um filme de baixo orçamento. Logo, existe uma contenção quase proposital, criando uma certa intimidade com corpos, lugares, personagens para que pudessem emergir. E não somente com uso de técnica e de uma belíssima fotografia. Contudo, vai criando um processo muito vivo, onde percebemos ali uma sensibilidade, sem pudor em alterar cenas, que não apenas encenação, neste jogo quase impossível de se planejar. É aí que o filme encanta, surpreende. Existe também uma manifestação destes corpos, criando este pequeno espetáculo destes traumas que os personagens expressam, comunicam, vivenciam. São duas histórias em dois tempos. Na primeira parte, tomamos conhecimento da história de Tiara. Para, noutra etapa, vivenciarmos os acontecimentos de Iris. Enquanto Tiara está mais presente na gênese do filme. Que narra histórias de violência. E que não se dá conta de dizer se aquilo é verdade ou não. Justamente, porque são várias histórias que vão acontecendo, num jogo de cena que vai mudando sempre. Criando dúvidas, confusões, expectativas. Assim, temos um filme dentro do filme. E que está ligado nesta percepção. Da história que é verdadeira e de outras que não são. Logo, a história de Tiara surge primeiro. Funciona como uma cápsula. E este prólogo surge como um convite para o público ir penetrando em outros espaços, jogos e possibilidades desta montagem. Ele vai apresentando tais possibilidades arquitetadas pela direção. Num outro momento, temos a história de Iris, uma jovem mulher vivendo num belo apartamento à beira mar. Uma personagem de classe social alta, cujas possibilidades permitem usufruir de tamanha beleza da natureza. O que não aconteceria. Ela parece viver aprisionada diante de seus medos, traumas, sem ter soluções para os problemas que vão surgindo. Até que aparece um rapaz morto em seu apartamento e tudo parece complicar de vez.
Na mitologia grega, o nome Íris trata-se da mensageira dos Deuses. E não sendo uma Deusa maléfica. Enquanto que no corpo humano, especificamente no globo ocular, a íris trata-se da parte colorida. E a personagem de fato tem olhos claros. Dado a interpretação magnifica pela talentosa Sabrina Greve, de uma interpretação pontuado por um naturalismo impecável. Cuja ação traz a tona das memórias, inquietações, afetos e desafetos da personagem e muita sensibilidade.
O filme tem algumas referências da obra "O Anjo Exterminador", do diretor Luis Bruel. De influência surrealista, foi considerado uma obra-prima da violência, crueldade e ironia. Fazendo uma crítica ao modelo da burguesia de época, os personagens são trancados dentro
de uma sala, onde com passar do tempo, as convenções vão desaparecendo, as máscaras sociais caem e afloram instintos dos mais primitivos, inclusive da morte.
Postado por Humberto Alitto
Em
23/10/2015 às 14h29
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