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Sábado,
24/10/2015
O espírito afro-latino na poesia de Nei Lopes
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
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O espírito afro-latino na poesia de Nei Lopes, livro inédito de minha autoria, foi classificado em 2º lugar ─ Prêmio Vianna Moog ─ no Concurso Literário Nacional e Internacional da UBE / RJ — 2015.
Para analisar a poética de Nei Lopes no ensaio O espírito afro-latino na poesia de Nei Lopes, enfoquei ─ sob os ângulos estilístico e ideativo ─ o livro Poétnica (Mórula: 2014), que reúne conjunto de poemas escritos pelo autor no espaço de tempo que vai de 1966 a 2013, tendo como motivo central o culto à memória dos ancestrais africanos e a relevância da resistência cultural na África e na América Latina em oposição aos padrões ocidentais. Nesse enfoque, dei relevância aos temas e valores afetos à espiritualidade e aos saberes negro-africanos, com grandes incursões pelo Candomblé.
Visto que, segundo a tradição ancestral, o sagrado tangencia todas as atividades do cotidiano, não faltam à poesia de Nei Lopes visitações à ambiência relacionada à casa, à rua e à cidade. Em Poétnica, ao andamento dos poemas e dos versos, o canto sonoriza-se e transita pelas terras da África e da América Latina, com muitas passagens pelo Rio de Janeiro, cidade onde o poeta nasceu e lugar onde vive. E lugar em que, na cultura carioca, o povo vivencia na memória a grande Pequena África.
Na poesia de Nei Lopes, considerando-se o modo de composição do canto, bem como o desenvolvimento e o fluxo da temática, Poétnica configura-se uma epopeia ─ uma epopéia afro-latina a irmanar aqueles dois continentes. Caracterizado tal perfil poético, identifiquei nos versos do autor a presença das sonoridades ancestrais, registrando que é, exatamente, na entonação que se desvelam mistérios da palavra ritmada. Sonorizada e ritmada, a palavra na poesia de Nei Lopes animiza-se ao modo da oração e dos cânticos próprios da tradição oral negro-africana. Oralizantes e tangenciando o sagrado, as articulações e repercussões dos sons referendam memória, atuação, força e simbolismo do espírito negro-africano, seguindo eixo ideativo que acompanha outros textos literários e pesquisas do autor.
Importante assinalar que, realizada num poema escrito aos 13 anos de idade, a poesia revela-se a primeira forma de expressão literária de Nei Lopes. Sua produção poética teve continuidade em trabalhos publicados a partir de 1966 e eclode, na forma de letra, em "Figa de Guiné", canção gravada em 1972, quando passou a se dedicar profissionalmente às atividades de letrista e compositor. Entanto, em O espírito afro-latino na poesia de Nei Lopes,o cancioneiro do poeta não foi objeto de análise, à exceção de duas letras mencionadas ─ Afrolatinô e Samba de Eleguá ─ numa comparação com a poesia em virtude de semelhanças quanto ao mesmo eixo ideativo que percorre Poétnica numa reverência aos ancestrais atuando nesse canto.
De acordo com os princípios da ancestralidade, o sagrado e o profano são faces de uma mesma realidade que transita entre o visível e o invisível na contiguidade do Aiê e do Orum. Para melhor ouvir o canto afro-latino de Nei Lopes, realizei estudo comparado da sua poesia e da tradição oral a partir dos versículos referentes aos ensinamentos negro-africanos registrados em Kitábu — O livro dos saberes e do espírito negro-africanos, igualmente de autoria de Nei Lopes.
Postado por Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
Em
24/10/2015 às 18h12
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