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Terça-feira,
10/11/2015
30 anos após De Volta Para o Futuro
Guilherme Carvalhal
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Toda a série de postagens recentes em torno do filme De Volta Para o Futuro leva a pensar o que faz esse filme receber tanto espaço por parte do público. O que gera relevância a esse filme são a química existente entre Michael J. Fox e Christopher Lloyd, o roteiro misturando trama adolescente, ciência e cultura pop, a ideia da viagem no tempo menos pretensiosa que nas grandes narrativas, não utilizada para se realizar grandes mudanças no passado ou entender como será o futuro, mas para alterar pequenas circunstância na pequena cidade de Hill Valley.
É interessante situá-lo em uma fortíssima onda de filmes juvenis que começaram a ser realizados no final dos anos 1970. Se durante a contracultura e demais movimentos na onda de liberação e rebeldia foram realizados filmes focados na juventude (Hair, Os Incompreendidos, Embalos de Sábado à Noite, Juventude Transviada, Amor, Sublime Amor) mostrando de aspectos políticos sociais a vazio existencial, essa nova geração se focou em outro patamar, o de mostrar a juventude como uma fase divertida e despretensiosa, quando ainda não é preciso se preocupar com as atribulações da vida adulta.
Essa onda de filmes veio inicialmente com filmes que incluem Clube dos Cafajestes e a série Porky's, muito semelhantes a American Pie, mostrando estudantes cuja maior preocupação está com a farra do final de semana. Ao longo dos anos 1980, toda sorte de filme adolescente foi produzida, abordando todos os temas possíveis e a grande maioria de verdadeiros clichês. Nesse meio, John Hughes foi um nome ímpar, pois foi quem, através da sétima arte, melhor conseguiu retratar os adolescentes dessa época.
Também é importante lembrar que na rebaba dos movimentos das duas décadas passados o mundo se tornou menos careta. Nesse ponto, o linguajar no cinema se tornou mais aberto e muitas das barreiras existentes anteriormente caíram. Desde cenas mostrando mais do corpo (sem ser filme com a tarja de para maiores de 18 anos) até um linguajar mais chulo e abordando temas como aborto e uso de drogas (como em Picardias Estudantis), as portas estavam abertas para uma expressão menos restrita.
Por outro lado, se o mundo se tornou mais aberto ao debate de vários temas, por outro aquele modelo rebelde que se associou à juventude mudou de foco. Não há uma expressão política ou crítica, apenas rebeldia contra a chatice da escola ou as restrições familiares. Isso foi um fluxo de todo o cinema dos Estados Unidos dessa época, tornando-se mais um mero divertimento desprovido de maiores reflexões. A profundidade de Kubrick ou Coppola deu espaço para os arrasa-quarteirões de Spielberg
A década de 1990 marcou uma volta mais séria a essa abordagem juvenil. Kids e Trainspotting abordaram a questão de drogas juntamente ao vazio existencial. A diversão juvenil está associada a uma existência sem sentido, sendo filmes pesados e sem muita alegria. Apenas a série American Pie daria um viés diferente, tentando recuperar o modelo da década de 1980, e a série Harry Potter abriria novas portas, a de fantasia adolescente, sendo precedido por muitos e muitos filmes com abordagem semelhante. É justamente nesse último ponto em que De Volta Para o Futuro se enquadra, com 20 anos de antecedência: uma aventura fantástica por parte de um adolescente, com a inspiração da jornada do herói.
Jornada do herói é um tipo de história que pressupõe um jovem que após um momento de rompimento quebra seu vínculo familiar e parte para uma série de aventuras, sendo que aos poucos ele vai evoluindo como herói. No caso de De Volta Para o Futuro, o momento de rompimento é a viagem, que dá a brecha para uma série de aventuras, quando precisa confrontar o vilão Biff, salvar sua família e voltar para casa em segurança. Ou seja, é um tipo de fórmula que deu certo há 30 anos e ainda hoje conquista as pessoas.
Outro aspecto curioso do De Volta para o futuro é a ciência. Permeando todas as formas de arte desde a antiguidade, a capacidade de um cientista em produzir ideias mirabolantes sempre conquistou o imaginário, principalmente após a Revolução Industrial, quando a ciência começou a se mostrar como a arte com a qual a humanidade conseguiria controlar todo o mundo. Em obras como Frankenstein ou O Médico e o Monstro temos a figura de experimentos que acabam produzindo algum resultado inesperado.
A figura de Doc Brown encarna essa ideia, apesar de seguir pelo viés humorístico. É o cientista estabanado e meio descolado da sociedade, envolvido mais com seu trabalho do que com qualquer outra coisa. Seu aspecto baseado na figura de Einstein completa essa caracterização, sendo que ele mesmo embarca em sua jornada pessoal, a de deixar de ser racional e se tornar mais passional. O caráter ciência envolve vários conceitos fantásticos, como capacitor de fluxo, terminologias derivadas de espaço-tempo e as previsões de inovação tecnológica do ano de 2015. É algo corriqueiro dentro de diversas artes e no cinema e na TV não faltaram tentativas de adivinhar como seria a tecnologia do futuro.
A correlação de história adolescente, jornada de herói e um olhar pop sobre a ciência são algumas das fórmulas de sucesso que renderam tanto destaque para De Volta Para o Futuro. A trilogia é um apanhado de referências modernas e existentes há tempos na humanidade, reproduzidas em uma trama agradável e divertida. É um filme marcante que expressa muito sobre a época em que foi produzido e sobre as expectativas existentes em seu tempo.
Postado por Guilherme Carvalhal
Em
10/11/2015 às 14h48
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