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Quarta-feira,
18/11/2015
A história da migração de um povo em poesia
Sonia Regina Rocha Rodrigues
+ de 7100 Acessos
Tenho em mãos o livro Encontro com poemas nipo-brasileiros.
Selecionei alguns poemas que traçam com delicadeza esta transição
difícil das ilhas distantes para este inferno tropical. Sensibiliza-me
a delicadeza com que aludem a temas delicados.
O livro apresenta uma breve história dos rumos das formas artísticas
japonesas em solo brasileiro. Os primeiros imigrantes aqui chegaram em
1908.
Haicai - esta forma poética expressa aspectos da natureza e
sempre inclui um kigo (uma palavra tema que geralmente é uma flor, ou
bicho, ou fenômeno climático)
Ao vir ao Brasil o imigrante Nenpuku Sato recebeu de seu mestre uma
missão a cumprir:
Cultive a terra e construa um país de haicais. - Kyoshi Takahama
(Hatta utte haikaikoku o hiraku beshi)
Nenpuku compôs seus haiku observando a natureza tropical. Um exemplo:
O brilho das flores de café
ao nascer da lua.
Cumpriu bem sua missão, pois o Brasil é o país em que mais haicaístas
existem, fora do Japão, e onde pessoas de todas as etnias se encantam
com os grêmios de haicai, ao contrário do que acontece em outros
países cujos povos são menos inclusivos que o nosso.
Tanka - modalidade poética com mais de 1300 anos de história,
consistindo de 31 sílabas encadeadas, transmitindo sentimentos
pessoais. As pessoas que se reunem para manter essa tradição são
verdadeiras chamas guardiãs da cultura ancestral.
Senryû - é um poema satírico que surgiu em meados da Era Edo
(século XVII) e utiliza a linguagem moderna para se referir a fatos
cotidianos.
Muitos dos poemas, escritos em japonês, perdem a métrica na tradução;
no entanto os sentimentos de toda uma comunidade é o aspecto
importante desta leitura, e permanece fresco e intato. A literatura
japonesa morrerá com seus autores, dos quais restam ainda alguns
centenários, porém a nova geração juntamente com os brasileira
admiradores dessas formas poéticas levarão adiante essas tradição,
agora não mais japonesa, mas aclimatada.
Vamos aos textos garimpados no livro:
Haicais
Rio Ribeira _
canção de colheitas de chá
às suas margens.
Kazue Koyama
Ao som do poema
de Gonçalves Dias
canta o sabiá.
Reiko Akisue
Sabiás gorjeiam_
sensação de aconchego
no país hospitaleiro.
Saoko Kosai
Retornar ao Japão _
no vasto campo seco
sonhos enterrados.
Kazuma Tomishige
No Ano Novo,
telefonema ao Japão.
Felicitações!
Mitsue Ino
Dia do imigrante_
Amor à terra natal
e louvor a este país.
Haruno Nishida
Tanka
Atravessando a rua
com a nora de olhos azuis,
mãos que me tocam
transmitem calor.
Reiko Abe
Passei a gostar mais de futebol do que do
sumô, e assim
fui me integrando no meio dos brasileiros.
Asahiko Fujita
Senryû
Envelheceram os imigrantes
que ainda cantam a terra natal.
Kobayashi Yoshiko
Não se mostra às crianças
a tristeza de fazer das tripas coração.
Suga Tokuji
Ser feliz é decisão de cada um.
A felicidade florescerá onde cultivarmos.
Kazuko Hirokawa
Em 1987 foi fundado em São Paulo o
Grêmio Haicai Ipê
, sob a liderança
de Hidekazu Masuda, carinhosamente chamado Mestre Goga. Em 1996, um
catálogo intitulado Natureza - berço do haicai , contendo
1400 kigos brasileiros foi publicado em comemoração ao Centenário da
Amizade Brasil-Japão.
Como tantas outras boas contribuições que os japoneses nos trouxeram,
sua poesia enriquece nossa visão do mundo. Harmonizemo-nos, pois, com
a natureza e com todos os outros povos, nossos irmãos.
Postado por Sonia Regina Rocha Rodrigues
Em
18/11/2015 às 15h38
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