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Quarta-feira,
25/11/2015
A cristaleira ─ série: Objetos
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
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Para Raul Almeida
Amarelas, com miosótis em azul,
essas xicrinhas de café acolheram as mãos dos meus avós.
O bule de faiança era da minha tia.
É só isto que posso saber.
Em São Paulo, comprei aqueles cálices coloridos
e adornados com folhas de videira. No licor de anis . . .
Ou seria de ameixa? Lábios amorosos? Ou amuados?
Circundando a louça antiga,
pulsam angústias, esperanças e afetos ancestrais.
E o entorno de cristal empareda tramas
que jamais poderei decifrar.
Na trave de madeira, pequena chave de bronze sela antigos pactos
de abrir e fechar o coração aos dias de festa ou de tédio.
Diante da transparência do móvel,
minha memória sofre de vazios por não poder alcançar
a alma daquelas peças amoráveis.
Hoje, no café da tarde, iluminaram-se glicínias no bojo das xícaras.
A quem pertenceram? A alguém triste? Alegre? Ou indiferente
às coisas da vida? Que mãos tingiram o lilás da floração em campo bege?
No café da tarde de hoje, mais uma vez se confirmaram
certa lonjura e o fôlego nas coisas que nos cercam.
Escondendo cenas jamais vistas por mim,
espelhos multiplicam formas e cores.
Do que se foi ─ é só isto que posso contemplar.
Conforta-me sentir que, entre distância e esquecimento,
quem ─ no passado ─ preservou tais objetos
partilha comigo o mesmo desejo de convivência
com o mistério do cotidiano.
O mesmo desejo.
Pressinto.
Postado por Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
Em
25/11/2015 às 19h37
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