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Segunda-feira,
7/12/2015
Scott Weiland (1967-2015)
Luís Fernando Amâncio
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Na pré-adolescência, ao ouvir no refrão de "Ideologia", do Cazuza, o trecho "meus heróis morreram de overdose/ meus inimigos estão no poder", eu imaginava um decadente Batman jogado num beco com uma seringa espetada no braço. Do outro lado, Pinguim ostentava a faixa de presidente da república, o Coringa estava no controle de multinacionais do capital financeiro, enquanto o Charada dominava a mídia. Seria o caos em Gothan City.
Com o passar dos anos, conheci heróis cuja morte por overdose é bem mais factível (embora, a bem da verdade, com esses mesmos anos a ideia de herói ficou restrita aos quadrinhos e filmes para mim). Se o Scott Weiland foi mais um que sucumbiu à dependência química, não se sabe oficialmente. Sua luta contra o vício, porém, era bastante pública.
E sempre que alguém morre nessas circunstâncias, não faltam discursos moralistas criminalizando o morto. Dependência química é uma doença que causa muito sofrimento para usuário e familiares. Recriminar o viciado, definitivamente, não ajuda.
Deixemos as especulações e julgamentos para veículos como o TMZ. Ganhamos mais reconhecendo o legado que Weiland deixou. Que foi bastante razoável para quem morreu aos 48 anos. Embora, quando o Stone Temple Pilots surgiu, em 1992, com o álbum Core, não tenham faltado críticas sugerindo que a banda era uma cópia fajuta do Pearl Jam. A voz rouca de Scott Weiland em "Plush" fez muita gente achar que Eddie Vedder havia cortado o cabelo. É verdade que as gravadoras nunca jogam para perder e que a sonoridade alinhada com a "moda grunge" ajudou a banda a emplacar. Mas Stone Temple Pilots não era um grupo fajuto, tampouco grunge — sequer eram de Seattle, mas de San Diego, na California. Quem ouviu a banda para além dos hits pode perceber isso. Core e seu sucessor, Purple (1994), venderam muito bem, emplacando sucessos como "Creep", "Vasoline", "Interstate Love Song", além da já mencionada "Plush".
A partir daí, os abusos de Weiland com drogas e álcool se tornaram públicos e afetaram a trajetória da banda. O terceiro álbum, Tiny Music... Songs from the Vatican Gift Shop (1996), é o melhor deles, em minha opinião. Livres da comparação com a cena musical de Seattle — que já não era moda — o grupo se aventurou por uma sonoridade mais livro, muito em função do talento dos irmãos Robert (baixo) e Dean (guitarra) DeLeo. Scott, por sua vez, também alterou um pouco seu registro vocal, que ficou mais agudo. As letras do álbum são afiadas. Tiny Music merece ser ouvido na íntegra.
Os álbuns seguintes, Nº 4 (1999) e Shangri-La Dee Da (2001), não são ruins, mas mostram uma banda já sem o entrosamento dos tempos áureos. Algumas turnês precisaram ser canceladas por conta dos problemas de Scott com seu vício. Até que o Stone Temple Pilots acabou em 2002. Eles retornariam em 2008, lançando, dois anos depois, o sexto álbum de estúdio, que seria o derradeiro com Scott. Em 2013, o vocalista foi demitido da banda, que desistia de lidar com sua instabilidade.
Scott Weiland também integrou a banda Velvet Revolver, com ex-integrantes do Guns'n Roses. O grupo esteve ativo entre 2002 e 2008 e prestou bons serviços ao hard rock. O vocalista também lançou quatro álbuns solos, inclusive um trabalho bastante digno neste ano, Blaster, como Scott Weiland & the Wildabouts.
Nos palcos, Scott Weiland foi um grande frontman, um dos maiores do rock. Ele serpenteava pelos palcos, agitando o corpo com a falta de inibição que sua posição requer. Um monstro nos shows, entretendo o público mesmo quando a voz apresentava algumas falhas inevitáveis para quem não cuida dela.
Por mais que Scott tivesse problemas para ficar sóbrio, no fundo seus fãs cultivavam esperanças de que ele venceria a luta e retornaria ao vigor dos anos 1990. Não aconteceu e é uma pena. Algumas batalhas são vencidas pela trupe do Coringa, infelizmente. Mas o Batman há de seguir firme na guerra.
Postado por Luís Fernando Amâncio
Em
7/12/2015 às 11h35
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