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Quarta-feira,
9/12/2015
Benção, mãe
Marco Garcia
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Numa sonolência profunda ouço vozes
Muito longe, desconexas
Identifico uma fala
É a minha mãe
Que sono, me deixa dormir
Estou com dificuldade para respirar
Minha camisa tá me sufocando
Tem uma mão forte me puxando
Que sono, me deixa dormir
Estou sendo arrastado
Daqui, consigo ver uma mão e uma arma
O que está acontecendo?
Meus calcanhares já se esfolaram no chão duro do corredor
Cuidado, minha cabeça vai bater no portão
Ouço vozes
Agora, mais desesperadas
É minha mãe
Sinto um puxão no braço esquerdo
Vejo ela cair com um empurrão
Estou na rua
Conheço as casas
Vejo o tuti, cachorro do dono do bar
Veio até mim
Latiu, latiu
Foi enxotado
Já estamos no meio da rua
Olho pra cima, tento me soltar
Estou com sono, me deixa dormir
Vejo a figura do homem que me arrasta, encapuzado
Reparo no buraco do revólver
Está mais perto do meu rosto
Ai, que dor no olho
Tô sangrando
Por quê?
Sinto agora um desconforto no pescoço
Meu peito arde
Sinto o sangue escorrer
A mão que me segurava me soltou
Bati minha cabeça no chão
De rosto no cascalho
Consigo sentir um afago na nuca
Mãe?
Pega minha coberta, tô com frio
Minha sonolência aumentou
É como se eu tivesse tomado remédio
Desses que relaxam os músculos
Sinto meu corpo inteiro ficando inerte
Tento falar, não consigo
Meus olhos querem fechar
Vejo a luz do poste perdendo o brilho
O rosto da minha mãe é apenas um borrão agora
A sensação de dormência é até confortável
Tá ficando escuro
Minha respiração tá difícil
Não tem jeito
Vou dormir de novo
Mas por que eu tô sangrando?
Quem é esse homem que me arrastou?
Mãe, não briga comigo
Mas quero dormir aqui
Essa poça de sangue tá tão quentinha
A luz se apagou
Mãe, a senhora me acorda às sete?
Benção, mãe
Postado por Marco Garcia
Em
9/12/2015 às 10h33
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