Quando me for daqui
um outro tomará o meu lugar.
Importa pouco o que eu haja feito
ou o que o outro fará.
Diante das ruínas de Atenas
ou das lembranças da poderosa Roma
tirar clássicas fotos ou venerar o passado
de nada a mim ou ao outro valerá.
Erguem os arquitetos monumentos
e os escultores estátuas e os artistas obras plásticas
que desafiam o tempo
e algum êxtase em mim ou no outro despertará.
E que dizer das tecnologias
que facilitam a vida dia a dia
pois longe vão os tempos espartanos
nestes tempos de agora hedonísticos?
Ou mesmo até dos edifícios de papel
que os escribas projetam com palavras
a transmitir aos pósteros estesias
transcendentes de forma cor e massa?
Importa pouco afinal a mim ou ao outro
o voo dessa ou aquela borboleta
que a vida fez alegremente efêmera.
E não importo eu e nem o outro
mas tão somente o que cegos cumpriremos
dando sequência à sucessão dos fatos
que torna eterno o voo passageiro
da borboleta e também o anonimato
do ser humano que a contempla apenas
com o mesmo olhar que viu talvez
ou nem sequer verá
as ruínas de Roma ou de Atenas.
Ayrton Pereira da Silva
in Umbrais 7Letras, 1997