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Quinta-feira,
17/12/2015
O longo sucesso de Guerra nas Estrelas
Guilherme Carvalhal
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Nunca fui um profundo admirador da série Guerra nas Estrelas. Ela sempre me passou uma ideia de mescla de elementos agradáveis amarrados por uma trama política passada em tempos futuros e com belos efeitos ontem e hoje, porém sem maior profundidade. Um pastiche em níveis mais elevados.
Os elementos apresentados pela série buscam na mitologia e em narrativas clássicas boa parte de sua expressão. O conflito entre pai e filho, o homem bom que se corrompe ao longo do tempo, o mestre sábio que treina o rapaz novato, todos esses são enredos bastante caricatos que tornam a história atrativa. O robô C3PO tem a função de ser o elemento engraçado, ao estilo Sancho Pança (função que Jar Jar Binks também encarnou), Han Solo representa o herói desprendido e sedutor, inspirado em personagens como Robin Hood, D'Artagnan ou Lancelot, que tem a bravura ilimitada.
O elemento político também não tem nada de inovador, basicamente inspirado em Roma e nos demais modelos em que uma república senatorial é fechada por um grupo autoritário que passa a ditar as regras. Nisso, os cavaleiros jedis são o elemento de proteção, como a Távola Redonda do rei Artur. A própria filosofia jedi bebe em fontes do misticismo oriental, como a retidão de caráter para o aprimoramento das artes marciais. Mestre Yoda guarda muitas semelhanças com o senhor Miyagi ou qualquer outro sábio oriental.
O fio narrativo dos três primeiros filmes (no caso, os episódios IV, V e VI) focou no conflito entre os rebeldes contra o Império e na formação pessoal de Luke Skywalker, que de jovem iniciante se torna um verdeiro guerreiro ao final. Elemento típico da jornada do herói, um modelo narrativo bem antigo que é marcado por um jovem que rompe com seu lar e trilha um longo caminho até se tornar um herói completo. Nesse caminho, há o confronto edipiano de Luke com seu pai Anakin, agora convertido no vilão Darth Vader, com direito à redenção desse personagem maléfico ao final.
Já a sequência (os episódio I, II e III) mostrou o que se passou previamente à trilogia inicial, com os conflitos que puseram fim à república, expurgaram os jedis e formaram o império. Como principal gancho, há a trajetória de Anakin, que de poderoso jedi acabou se rendendo ao lado negro e trilou o caminho do mal. Aqui, há um caminho inverso: o do soldado puro que vai à queda, uma nova referência a mitos antigos, como o de Lúcifer, que de anjo radiante vai em oposição a Deus e é condenado.
Se os episódios IV, V e VI puderam dispor de liberdade criativa, o I, II e III ficou atrelado ao sucesso da série original. Houve a necessidade de criar personagens que suprissem a leva inicial, como o bobo da corte, a mocinha indefesa e o herói intrépido. O roteiro ficou preso por precisar explicar o que se passou e trazer os elementos que fizeram a primeira trilogia um sucesso de público. Houve a explicação, festival de efeitos especiais, porém não atingiu o mesmo nível de interação como os primeiros. Darth Maul não supera o Vader, Jar Jar Binks não é melhor bobo da corte e o Anakin Skywalker não convence em nenhuma de suas fases.
Guerra nas Estrelas é uma produção divertida e sofisticada, apesar de estar longe de ser algo de profundidade. O roteiro é costumeiramente previsível (no caso do I, II e III, já se sabia de antemão o que aconteceria ao final) e não se sustenta pela criatividade, mas pelo universo todo criado. Ele bebe em muitas produções de ficção científicas existentes previamente sem ser algo de totalmente novo. Alienígenas de nomes exóticos, robôs inteligentes, batalhas espaciais, nada disso foi uma novidade.
Reitera-se que o modelo de produção inaugurado por George Lucas juntamente com Spielberg, os filmes denominados arrasa-quarteirão (blockbuster, no termo original), é altamente pautado por uma estratégia de marketing, sendo produções mais próximas da indústria do que da arte. Bonecos dos personagens, animações exibidas na TV, todo tipo de atrativo foi utilizado para atrair novos públicos. Tudo influi para alcançar o máximo de pessoas, até mesmo a data de lançamento.
O sucesso da série se estende no atual momento, quando o episódio VII está prestes a ser lançado. As estratégias de marketing já estão funcionando (como nos perfis de Facebook com as pessoas empunhando sabre de luz) e as polêmicas já ajudaram a ganhar espaço na imprensa. O lançamento agora prestes ao fim de ano com certeza foi fruto de uma forte estratégia publicitária. Tudo indica que o filme será um grande sucesso de bilheteria, mostrando como arrasar quarteirões continua sendo uma estratégia forte.
A mescla desses elementos explica muito o porquê de Guerra nas Estrelas fazer tanto sucesso. Ela usa e abusa de narrativas que historicamente se mostraram atraentes, traz cenas de ação empolgantes e tem uma fortíssima indústria de marketing por trás. Ao longo de tanto ano a produção angariou uma grande quantidade de fãs, o que garante um público fixo. A força publicitária é tão grande que é bastante provável que uma nova leva de fãs surja agora com esse novo episódio.
Postado por Guilherme Carvalhal
Em
17/12/2015 às 13h50
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