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Sexta-feira,
1/1/2016
Assessoria de natal
Flávio Sanso
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Distraída com a tela do celular, a assessora do papai Noel negligencia a fila já bem comprida. Ele próprio, o assessorado papai Noel é quem devia repreendê-la, mas se mantém indiferente, está prostrado na poltrona vermelha, onde também se entretém com o celular. Um choro agudo faz a assessora do papai Noel despertar do sonho tecnológico, ela guarda o celular e se põe a enfrentar o batente, pega pela mão a criança birrenta e a leva até o colo do papai Noel, que imediatamente encontra abrigo para o celular. Papai Noel arrisca algumas frases clichês, foi bonzinho durante o ano?, o que vai querer ganhar de presente?, mas nada acalma o choro da criança. A mãe, sem mais argumentos, sem mais paciência, sem mais tempo, contenta-se em retratar o filho com careta de menino chorão. Aliás, na fila, muitas crianças protestam por meio do único recurso de indignação que lhes cabe. É até compreensível, choram por não querer proximidade com a criatura extravagante que esconde a cara por trás de tufos de algodão. Aí está só o início das incompreensões e desentendimentos entre pais e filhos que durarão pela vida afora.
A assessora do papai Noel dedica novamente atenção exclusiva ao celular. A maquiagem exagerada não disfarça a idade de quem ainda nem chegou à adolescência. Sua fantasia formada por gorro, luvas, meias longas transmite incômodo pela sensação de que deve provocar um calor dos infernos. Se bem que o ar condicionado do shopping traz algum alívio, ao que parece tenta simular a temperatura de onde veio o nosso papai Noel. Ao olhar para o lado, uma expressão de enfado. A fila não para de crescer.
Fim do dia, em meio a pessoas carregando bolsas de compras, a garota sai do shopping ainda fantasiada. Não fosse tempo de natal, a cena soaria estranha. Enfim, contexto é tudo. De repente, acelera o passo, o que a espera não são renas nem trenó, entra no ônibus e por sorte consegue lugar junto à janela. Mal se senta e já está conferindo as novidades na tela do celular. Aquele ônibus, cheio e barulhento, não tem ar condicionado.
Texto originalmente publicado no site reticencia.com [email protected]
Postado por Flávio Sanso
Em
1/1/2016 à 01h11
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