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Sábado,
30/1/2016
Garganta profunda
Renato Alessandro dos Santos
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Dusty Springfield não tem seu nome reconhecido por todo mundo que gosta de música, como eu e você. Minha sorte foi ler a crítica sobre os álbuns Dusty in Memphis (1969) e A girl called Dusty (1964) no 1001 discos para ouvir antes de morrer, livro que além de edulcorar a estante de CDs e discos de vinil traz sugestões do que vale a pena ouvir por aí.
Dusty brigou com meio mundo por causa de seu álbum Dusty in Memphis, seu debute. O processo de produção de um disco não é uma junção de elementos reunidos à toa ou à base de sorte, pois um produtor musical de talento sabe os botões que tem de apertar. Dusty Springfield brigou com esse cara, com o cara dos arranjos, com o porteiro, com o faxineiro, com a loira do banheiro, com Deus, com o mundo. Uma artista que tem consciência do que é capaz de fazer e que, por isso, não arreda o pé, não é, diz, uma pessoa para se respeitar? Deu no que deu: os admiráveis Dusty in Memphis e A girl called Dusty, como você já sabe, foram parar no meio dos 1001 discos e, por isso, estamos aqui, eu e você, na peleja com este texto.
Vamos ignorar os discos dela dos anos 1980 em diante, porque, mais do que um trabalho de maturidade, o que há ali são algumas moedinhas jogadas à toa na fonte da juventude; à toa porque secou. Melhor lembrar de Dusty Springfield nos anos 1960, quando fez de sua música um convite para ouvi-la, enquanto na cabeça de quem a ouve um carrossel de parque de diversões fica rodopiando, rodopiando...
Difícil não incluir algumas contas de vidro dessa intérprete de soul, rock e pop no dia a dia, como “Son of a preacher man” (talvez sua canção mais conhecida), “Mockinbird”, “I only want to be with you”, “He’s got something”, “What do you do when you love”, “Don’t forget about me”, “Breakfast in bed” e, finalmente, a comovente “Goin’ back”, que deve ter sido feita para marejar de lágrimas o chão onde rolam os fãs de Dusty. É uma canção que fala de olhar para trás com o arrependimento que, decerto, toma conta desse cérebro onde relâmpagos cintilam acima dos ombros seus, leitor.
Pena descobrir que Dusty Springfield não conseguiu fazer o câncer de mama beijar a lona, derrotado. Era dois de março de 1999. Dona Morte só podia estar de brincadeira… Certo é que ela é dona de uma dessas vozes que enchem a sala toda, como cabe a uma garota de talento como ela. Tomara que o tempo dê o lugar que ela merece na Quadrilha das Gargantas Profundas, esse clube fechado onde vozes de veludo como E_ _ a James, _l_a Fitzge_ald, Aret_ _ Franklin e Am_y Whinehouse fazem a festa. +++
Ilustração de Thaís Alberti; texto publicado originalmente no site Tertúlia
Postado por Renato Alessandro dos Santos
Em
30/1/2016 às 16h09
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