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Quinta-feira,
25/2/2016
Entrevista Anti-Crise
Claudio Spiguel
+ de 2700 Acessos
Julio,
Como eu temia, as perguntas que você elaborou para a entrevista são dirigidas a quem está atravessando a "crise" no Brasil, e portanto, como eu não resido no Brasil atualmente, fica um pouco difícil responder com o sentido almejado. No entanto, como eu acho que a "crise" Brasileira não é coisa recente ou de curto prazo (o buraco é mais embaixo...), vou tentar responder tentando fazer aflorar esse foco, e talvez assim uma contribuição minha para o "grupo anti-crise" possa fazer sentido. Dependendo do resultado, fica a seu critério como editor publicar ou não. Vamos lá: Nota Posterior:Você pediu que publicássemos as entrevistas em nosso blog...
Entrevista AntiCrise: Claudio Spiguel
1. Conte um pouco de você e da sua atividade.
Tenho 67 anos, e estou aposentado há 13 anos. Sou Engenheiro pela Escola Politécnica da USP (como o Editor Júlio, só que um pouquinho mais velho... :-), e sou Doutor em Ciência de Computação pela Universidade de Michigan, nos EUA. Fiz minha vida e carreira profissional nos EUA, e me aposentei como Vice Presidente Corporativo e CIO (Chief Information Officer) da firma farmacêutica Astrazeneca, Inc. e como Professor Titular de Gerência Estratégica de Informação na Escola de Economia e Administração de Empresas da Universidade de Delaware. Hoje em dia minhas atividades se enquadram praticamente todas dentro do voluntarismo, por exemplo como Rotariano que sou há 11 anos, empregando minha experiência em Gerência de Projetos para assessorar iniciativas de aplicação de recursos pela Fundação Rotária Internacional em projetos que visam melhorar as condições de vida em comunidades em alto risco social ao redor do mundo. Participo também da Diretoria de tres entidades de ensino e administração sem fins lucrativos, e sou mentor no colegial local de alunos especiais no tema de como ter sucesso em uma carreira profissional. Mas considero minha atividade principal participar com minha esposa por 44 anos, Cristina, do crescimento dos nossos OITO netos, seis dos quais residem na mesma cidade que nós, Gainesville, na Florida, EUA.
2. Como a "crise" afetou você nos últimos tempos?
Antes de responder esta, é preciso definir a "crise". A crise no Brasil é crônica, desde que eu me entendo por gente. A atual administração apenas fez por exacerbar e oficializar o mar de lama que sempre correu por baixo do verniz. Essa crise crônica se nutre, na minha opinião, através de três maldições principais: a) Um total descaso e consequente pífio investimento em educação e conhecimento, que resulta em uma falta de educação generalisada em uma grande porcentagem da população; b) Um total desrespeito ao mérito e ética de trabalho. Sucesso no Brasil não é determinado por experiência e realizações, mas sim por em quantas cabeças se pisa na subida. Competência no Brasil não dá frutos... competência no Brasil incomoda; c) Um deboche completo às Leis do País, acoplado a um sistema de (in)justiça corrupto e risível. As consequências mais óbvias disso são a impunidade, e o famoso "jeitinho" Brasileiro... estas, na minha opinião, são as perdições do Brasil. Assim definida a "crise", nem é preciso dizer como ela afetou, e ainda afeta, não só a mim, mas a todos os Brasileiros.
3. Como você está reagindo à crise? (Quais medidas adotou para se defender dela?)
Eu simplesmente saí do Brasil... na verdade saí do Brasil três vezes... a primeira, esperançoso e de certa maneira ingênuo, para estudar e aprimorar e aprofundar meu conhecimento; a segunda, decepcionado, mas sabendo que existem sociedades que funcionam a despeito dos problemas humanos que a pressionam; a terceira, há apenas alguns anos, cansado de tentar ajudar e com as mãos sangrentas de dar murro em ponta de faca, e saudoso da proximidade com filhos e netos. Não me orgulho de ter saído do Brasil, mas o trem da oportunidade passa na estação apenas algumas vezes na vida... se a gente não pula nele, ele passa e não volta. A vida é o que se faz dela...
4. Conhece outras pessoas na mesma situação? (Se sim, como elas estão fazendo para atravessar o momento?)
Muitas... todos os Brasileiros com quem interajo no exterior manifestam-se como se estivessem fugindo de situações impossíveis. E, sem exceção, pelo menos os que eu conheço são pessoas de bem, que querem estudar e trabalhar seriamente, progredir, e sentem que não há condições de fazê-lo no Brasil. Isso causa um problema sério de evasão de cérebros capazes, e uma espiral descendente que imortaliza a crise crônica descrita em 2. acima.
5. Você conhece alguém que - apesar da crise - está conseguindo se desenvolver de alguma forma? (Se sim, o que essa pessoa está fazendo de diferente?)
Sim... todos que eu mencionei em 4. acima, e uns poucos amigos no Brasil que dispõe de uma situação financeira que permite que eles "naveguem" acima das vicissitudes e dos altos e baixos do caos econômico que se instalou por conta da incompetência corrupta da liderança atual. Quanto ao "o que fazem diferente", acho que isso se resume a obedecer uma ética de trabalho decente e honesta.
6. Quais são as grandes "lições" desta crise, até agora, para você?
A maior lição da crise atual, no meu entender, é a corroboração de que com coisa séria não se brinca. Coisa séria, assim, como eleger um Presidente da República. Eu me lembro que um dos slogans usados pela liderança atual era "A Esperança Venceu o Medo"... Eu nunca entendi como pode haver Esperança em eleger incompetência para cargo de tamanha responsabilidade. E no caso do Brasil, ainda por cima uma incompetência corrupta e mal-intencionada. E quanto ao Medo, eu também nunca entendi... Medo... de que? Ficam aí as perguntas...
7. Acha que a crise, do jeito que está, vai longe (ainda)?
Infelizmente sim... pois como defini acima, a crise é crônica. Mas toda a corrente é tão forte quanto o seu elo mais fraco, e no caso do Brasil, o único elo que pode ser quebrado é através de investimento sólido na educação da população em geral. Medidas nesse sentido são cronometradas em gerações, portanto levam um longo tempo... a ver...
8. Como acha que o Digestivo pode ajudar você nesta travessia?
O Digestivo me ajuda muito como um canal de comunicação com e informação sobre o Brasil. Sou um dos blogueiros, e, portanto, o Digestivo também funciona como uma válvula de escape para mim direcionada ao Brasil. Continuar a ler e escrever em Português me ajuda a manter viva a língua mãe, e ensinar meus netos a serem bilíngues desde a tenra idade, o que no mundo de hoje é uma característica importante.
9. Se pudesse pedir alguma ajuda aos Leitores do Digestivo - para deslanchar seus projetos -, o que você pediria?
Gostaria de pedir que continuassem lendo meus posts. Publiquei durante o ano passado uma série de 13 artigos no blog contando uma História da Tecnologia da Informação, vista através das lentes da minha carreira profissional. Recebi muitos comentários elogiosos, e foi motivador... quem já leu, comente mais... quem não leu, leia e comente... é disso que vive um escritor amador. Este ano pretendo escrever sobre outros assuntos também... leiam e comentem... será um prazer interagir com TODOS os leitores!
10. Quais são seus links, seus contatos? Enfim, onde os Leitores podem encontrar e contatar você?
Além de através do Digestivo, eu posso ser contatado no seguinte e-mail: [email protected]
Obrigado ao Digestivo Cultural na pessoa de seu Editor Chefe, Júlio Daio Borges, pela oportunidade de expor meus pensamentos através desta entrevista.
Postado por Claudio Spiguel
Em
25/2/2016 às 22h06
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