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Sábado,
26/3/2016
O que quero deixar ao meu filho
Heberti Rodrigo
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First Steps, Van Gogh. Fonte:http://www.yeskey.com/
"A felicidade é a realização de um desejo pré-histórico da infância. É por isso que a riqueza contribui em tão pequena medida para ela. O dinheiro não é objecto de um desejo infantil." Sigmund Freud
Em minha primeira participação no Writers Ink, na Alemanha, havia seis escritores além de mim, da Namorada e do Theo, meu filho, na época com um ano e quatro meses. O grupo literário é constituído por um número maior de pessoas, mas apenas estas seis participavam do encontro naquele dia. O Theo ficou o tempo inteiro brincando na mesma sala em que estávamos, mas parecia entender o que acontecia pois, durante a leitura dos textos, permaneceu em silêncio. Quando fomos embora, a Namorada contou-me que falou para ele o seguinte: "Fica quietinho agora que isso é importante para o papai".
Em vários momentos, eu estava sério, uma seriedade que ao olhar para ele ganhava contornos diferentes, mais ternos. Tudo aquilo era importante para mim, mas me dei conta, também, de que era uma brincadeira. Brincar é algo sério para uma criança. É quando ela exercita a própria imaginação e outros aspectos de sua personalidade. É brincando que, muitas vezes, uma criança encontra sua vocação. Por isso, penso que brincar nem sempre é brincadeira como parece entender toda a gente quando começa a se preocupar basicamente com o futuro salário e a colocação profissional de seus filhos, ocupando desde cedo o tempo das crianças com aulas disso e daquilo, desprezando aquele tempo ocioso, imprescindível ao desenvolvimento da capacidade de sonhar e brincar, em que se abre a possibilidade do encontro de um ser humano com sua vocação.
Quando comecei a escrever, um filho não estava no meu horizonte. Também não vou dizer que tê-lo não mudou nada. Mudou sim. Para começar, o tempo que tenho para dedicar-me à escrita se tornou bem menor. Creio que continuaria escrevendo mesmo que não tivesse tido um filho, mas depois que o Theo nasceu passei a desejar também que ele veja o pai correndo atrás do que acredita. Quero que meu filho, quando encontrar o que deseja fazer da vida, corra atrás. Esse é o legado que pretendo deixar a ele. É também a maneira que desejo que se lembre do pai. Estimularei o Theo a encontrar sua vocação e, quando encontrá-la, a não desistir dela a despeito do que todos à sua volta venham a dizer. Não sei se um dia ganharei dinheiro com o que escrevo, mas tenho para mim que o que a escrita me propicia é algo que desejo que ele encontre no que vier a fazer no futuro. Como é de se esperar de um pai que ama seu filho, quero que o Theo seja feliz, mas quando ele assim não se sentir, espero que jamais deixe de lutar para sê-lo e, para ser capaz de lutar, é preciso que se tenha um sonho, uma vocação, e se agarre a eles. Há momentos em que parece que a vida em si mesma não se justifica e, nestas horas, não importa o quanto tenhamos de dinheiro, sem um sonho ou uma vocação, ela infelizmente se revelará pobre, injustificável e sem sentido.
Contato: [email protected]
Postado por Heberti Rodrigo
Em
26/3/2016 às 11h39
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