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Quinta-feira,
5/5/2016
Improvável amor de São João
Marco Garcia
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Ela suspirou e pensou. Quentão, milho cozido, amendoim, mugunzá, canjica e forró. Eita, que a melhor época do ano está chegando.
Ele a olhou e sussurrou.
Eu gosto de você com força, por isso eu grito “I love you com toda gota”.
Gaiato que só, ela respondeu.
Ele, sem cerimônia, replicou: peguei no seu cabelo, você disse “fiquei louca”, falei no ouvidinho “tem cuscuz com leite”.
Ela, sem poder se conter, gritou: pela antecipação e extensão do São João eu voto siiiiiim!
Marminino, ele ponderou.
Ela, braba que só a peste, devolveu: quem é você para derramar meu mugunzá?
Ele, para amenizar as coisas, disparou: tu é o meu aperreio mais gostoso.
Desconfiada, ela contemporizou. “Deixe de enxerimento”.
Ele não se conteve: se avexe não, é com você que eu quero dividir o meu cuscuz.
Se fazendo de desentendida, ela cobrou: deixe de arrudeio.
Querendo ir ao ponto, ele alega: calor do estopô. Bora pra rua da cachaça.
Ela, irônica, desdenha: É mermo é?
Ele, mais incisivo, dispara: tome mel, tome cachaça, tome amor e tome xote.
Para cortar o assunto, ela salienta: você até que é legal, mas eu prefiro paçoca.
Ele, para se fazer de importante, cola comigo que é sucesso garantido.
Gaiatin, meu fii, né?
É o mundo pra mangar de mim e eu só para mangar do mundo, filosofou ele.
Se rendendo às cantadas sertanejas do sujeito, ela ameniza: bora, amo cheiro no cangote.
Pois cuida, a gente se ajeita numa cama pequena, te faço um poema e te cubro de amor.
De longe, ela ouve: menina, vem timbora esquentar o almoço.
Mamãe.
A bixinha, rapaz, ele choramingou.
Sozinho, à noite, suspirou: a pior parte do dia é quando a danada da saudade vem.
Tivesse ela aqui, a gente ia dançar ‘rala ralando o tchan’ a noite toda.
Ô saudade lascada.
*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.
Postado por Marco Garcia
Em
5/5/2016 às 12h26
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