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Sexta-feira,
10/6/2016
Sobre o texto A Sala Vazia e Di Chirico
Heberti Rodrigo
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As Máscaras, de Di Chirico
Link para o texto A Sala Vazia
É missão do artista penetrar o mais fundo possível naquele âmago secreto onde uma lei primitiva sustenta o seu crescimento. Que artista não desejaria habitar a fonte central de todo o movimento espaço-tempo (esteja ele situado no cérebro ou no coração da criação), de onde todas as funções extraem a sua seiva total? Onde se esconde a chave secreta de todas as coisas? No ventre da natureza, na fonte original de toda a criação? (...) Coração a palpitar, somos levados cada vez mais para baixo, em direção à fonte primordial. (do pintor Paul Klee)
De Chirico foi o fundador da chamada pintura metafísica. "Todo objeto", escreveu ele "tem dois aspectos: o aspecto comum, que é o que vemos em geral e que os outros também veem, e o aspecto fantasmagórico e metafísico que só uns raros individuos veem nos seus momentos de clarividência e meditação metafísica. Uma obra de arte deve exprimir algo que não apareça na sua forma visivel".
As obras de De Chirico revelam esse "aspecto fantasmagórico"das coisas. São transposições sonhadoras da realidade que surgem como visões do inconsciente. Mas sua "abstração metafísica"é expressada numa rigidez que toca as raias do pânico, e a atmosfera dos seus quadros é de pesadelo e melancolia ilimitada. As praças das cidades italianas, as torres e os objetos são colocados numa perspectiva exageradíssima, como se estivessem no vácuo, iluminados por uma luz fria e impiedosa vinda de uma fonte invisivel. Cabeças antigas e estátuas de deuses evocam o passado clássico.
...De Chirico foi profundamente influenciado pelas filosofias de Nietzsche e Schopenhauer. Escreveu: "Schopenhauer e Nietzsche foram os primeiros a ensinar a profunda significação do nenhum sentido da vida, e a mostrar como se podia transformar isso em arte (...). O vazio que descobriram é a verdadeira beleza, imperturbada e despida de alma, da matéria." Não se sabe ao certo se De Chirico teve sucesso em traduzir esse "vazio terrível" em "beleza imperturbada". Alguns dos seus quadros são extremamente perturbadores; outros são aterradores como um pesadelo. Mas no seu esforço para dar ao vazio uma expressão artística, ele penetrou no âmago do dilema existencial do homem contemporâneo.
Nietzsche, que Di Chirico cita como autoridade no assunto, deu nome ao "vazio terrível" quando disse "Deus está morto". Sem referir-se a Nietzsche, Kadinsky escreveu no seu O espiritual na arte: "O céu está vazio. Deus está morto." Uma frase desse tipo soa de maneira abominável, mas não é nova. A ideia da "morte de Deus" e sua consequencia imediata, "O vazio metafísico", já inquietava os poetas do seculo XIX, sobretudo na França e na Alemanha. Passou por uma longa evolução que, no século XX, alcançou um estágio de discussão livre e encontrou expressão na arte. A cisão entre arte moderna e o cristianismo foi, afinal, consumada.
O pintor russo Marc Chagall pode ser considerado o contrapeso de De Chirico. Também ele busca na sua obra uma "misteriosa e solitária poesia" e o "aspecto fantasmagórico das coisas que só raros indivíduos conseguem vislumbrar". Mas o simbolismo de Chagall, muito rico, está enraizado na piedade do judaísmo oriental e num sentimento de cálida ternura pela vida. Não enfrentou nem o problema do vazio nem o da morte de Deus. Escreveu: "Tudo pode mudar no nosso desmoralizado mundo, menos o coração, o amor do homem e sua luta para conhecer o divino. A pintura, como toda a poesia, participa do divino; e as pessoas sentem isso tanto quanto antigamente."
Extraído de O Homem e seus Símbolos, de Carl G. Jung
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Postado por Heberti Rodrigo
Em
10/6/2016 às 18h33
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