Filme estreia nesta quinta, dia 21 de julho em São Paulo e no Rio de Janeiro nos cinemas e, ao mesmo tempo, de maneira inovadora aos assinantes do NET NOW
Com Benicio del Toro e Tim Robbins obra retrata a história de um dia de agentes humanitários em meio a guerra dos Balcãs
Em plena Guerra dos Balcãs, Mambrú (Benício Del Torro) é encarregado de retirar um cadáver de dentro de um poço que abastece um vilarejo. Mambrú lidera o grupo de agentes humanitários que estão tentando impedir que o corpo contamine a água, o que acontecerá dali a 24 horas.
Próximos de concluir a tarefa, a corda arrebenta e surge uma série de imprevistos que vão permear todo esse período. Pode parecer ironia, mas esse é o dia perfeito que trata o título do longa-metragem. E é usando o discurso irônico que o filme se destaca com momentos de humor negro e situações nonsenses, de muita burocracia que se revelam.
Apesar de ser um filme que se passa em uma zona de conflito em meio à guerra, ele possui uma abordagem completamente diferente da maioria dos filmes deste tipo. Não há foco no campo de batalha, nas mortes ou mesmo em cenas de violência brutal; dada a natureza dos agentes, tampouco eles portam armas. No entanto, a tensão está presente em vários momentos ao longo do dia.
Responsável por esse sentimento Fernando Léon Aranoa (do bom Segunda-feira ao Sol ) faz uma ótima direção ao equilibrar a ironia, humor negro, drama, ação e cotidiano, principalmente utilizando cenas aparentemente prosaicas com outras de se prender a respiração. O plano em que uma senhora tange o gado para voltar para casa é um exemplo desse equilíbrio. A angústia que a direção segura de Aranoa nos proporciona nesta cena de quase total ausência de conflito é exemplar.
O diretor também assina o roteiro, vencedor do Goya, que é baseado no livro Dejarse Llover, de Paula Farias, escritora, médica humanitária e ex-presidente da ONG Médico sem Fronteiras, tem como qualidade captar a imensa complexidade de relações que se estabelecem entre a comunidade local e o entre os próprios agentes.
Em busca da corda pra retirar o corpo, o personagem B. (Tim Robbins, vencedor do Oscar de Ator Coadjuvante por Sobre Meninos e Lobos, em mais uma boa atuação) juntamente com o interprete local vão a um empório, nas cercanias, e encontram fardos de corda, mas ao tentarem comprar o dono informa que ‘não tem’ corda para ser vendida. O motivo? Os povos são rivais. Eles tentam insistir, mas a hostilidade no lugar e a pressão de todos em volta fazem perceber que nem mesmo argumentos financeiros seriam suficientes.
Os personagens possuem seus próprios dilemas. Sophie (Mélanie Thierry, de Missão Babilônia) é a nova agente e parece que não vai conseguir suportar o estresse, pois desde o início padece ao ver o cadáver ou uma vaca em decomposição na estrada. Mambrú está em sua última semana de trabalho na guerra e pensando em se aposentar, o que pode significar que ele relativizará as regras do lugar ou não se arriscará para voltar logo para casa, mas o que o perturbará mais ainda é a presença de Katya (Olga Kurylenko, de 007 Quantum of Solace), analista de conflitos, ex-affaire e que mantém, como provocação, contato com a sua mulher.
Com foco na dimensão humana dos personagens na abordagem da guerra, sem hierarquizá-los, em que a importância e a busca da corda para capturar o corpo do poço e a bola de uma criança possuem o mesmo valor, o valor da busca ou o que a move.
Voltando ao início do texto o adjetivo não está qualificando aquilo que nos apetece de maneira ideal, mas revelando que um período com todos esses elementos, mesmo que adversos, pode ser sim um dia perfeito.
Cotação: Bom (***¹/²)