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Sábado,
6/8/2016
Sobre a Abertura das Olimpíadas do Rio em 2016
Julio Daio Borges
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Acho que nunca vamos nos esquecer da "Copa das Copas". E daquela abertura nonsense, feita por um belga, que surgiu do além ― e que misturou Claudia Leitte com Jennifer Lopez e "Pitbull" (alguém se lembra desse sujeito?). Depois, no encerramento: Alexandre Pires, o pagodeiro, mais Carlinhos Brown e Santana ― num verdadeiro samba do crioulo doido. Total "vergonha alheia". Pensando bem, estava à altura do "7 a 1" ― a maior vergonha esportiva do Brasil em todos os tempos.
Fernando Meirelles, felizmente, seguiu uma linha ― e se apoiou na música brasileira. Acredito que fugir do verso "O Rio de Janeiro continua lindo" fosse, para ele, impossível ― e Meirelles decidiu, então, começar pelo mesmo. Mas escolheu uma versão não-óbvia de "Aquele Abraço", cantada por Luiz Melodia.
O Hino Nacional por Paulinho da Viola foi outro acerto. Fugiu daquelas execuções protocolares ― mas sem perder a solenidade do momento, com muita beleza e elegância. E Paulinho da Viola foi vingado, depois daquele Réveillon no Rio ― em que recebeu menos cachê do que os baianos...
Zeca Pagodinho e Marcelo D2 foram OK. Regina Casé foi uma forçação de barra e ela não deveria ter tentado passar nenhuma "mensagem" (ainda mais em inglês). Jorge Benjor: muito rouco, mas bem. O primeiro grande ausente foi Wilson Simonal, o verdadeiro responsável pelo sucesso de "País Tropical".
Agora, o grande momento, na imprensa internacional, até onde eu vi, foi o desfile de Gisele Bündchen. Daniel Jobim não fez feio, ao piano, mas não é páreo para Gisele. Ela ficou melhor se contrapondo a Tom Jobim, enquanto tocava "Garota de Ipanema". (Helô Pinheiro, a original ― que está muito bem na capa da "Caras" ― poderia ter feito uma aparição surpresa...)
Foi bonita a homenagem a Santos Dumont, um dos heróis da nossa mitologia, e combinou com o "Samba do Avião" (de novo, do Tom).
E por falar em mitologia, Fernando Meirelles não conseguiu fugir dos nossos "mitos fundadores": índios, portugueses, africanos, imigrantes etc. Mas foi, relativamente, breve, em sua abordagem. (Confesso que não tenho muita paciência para "alegorias" que precisam de muita explicação. Quando é preciso de semiótica e sociologia para entender uma cerimônia de abertura, significa que ela não funcionou...)
A "mensagem" sobre o aquecimento global me pareceu desatualizada. Mais apropriada à Eco-92. Fora que "Um Verdade Inconveniente", o documentário de Al Gore de 2006, já havia esgotado o assunto...
Original foi citar o poema de Drummond, um mineiro que adotou o Rio. Tirando Vinicius de Moraes, é raro que um poeta seja citado assim. E um poema não-óbvio: Meirelles resistiu ao apelo fácil da "pedra no caminho" e do "José". Fernanda Montenegro e Judi Dench foram mais dois acertos ― pena que pirotecnia tenha ofuscado suas palavras (e tenha ficado difícil de captar o sentido do que elas estavam declamando)...
Misturar Chico Buarque, de "Construção", mais Deborah Colker e o maestro Rogério Duprat foi outra boa ideia. (Eu não recomendaria, mas funcionou.)
Os desfiles das delegações dos países com os "ritmistas", como todos os locutores apontaram, foi um acerto grande. Deu um ar de "festa" à coisa toda. Afinal, o Brasil não é um país "sério" (no bom e no mau sentido)...
A entrada da delegação do Brasil, tocando "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso, de fato, emocionou.
Wilson das Neves protagonizou sua própria versão do "Samba da Benção", de Vinicius de Moraes.
E o trio "Caetano, Gil e Annita" não soou estranho, ainda que o grande ausente, que consagrou "Isso aqui, ô, ô", tenha sido João Gilberto. É provável que, como Pelé, ele não tivesse "condições" de comparecer. Mas poderiam ter convidado Bebel Gilberto...
A parte do funk carioca, eu pulo ― porque dispenso. E quando pensamos no quanto eles poderiam ter errado nessa cerimônia de abertura ― e no quanto eles erraram *pouco* ―, foi um feito e tanto.
Fernando Meirelles pegou um Rio de Janeiro, literalmente, em estado de calamidade pública, com baixo orçamento, e fez uma cerimônia de abertura que uniu os brasileiros, de novo ― apesar de toda a desilusão da política... (Mais uma vez: não foi pouco.)
E se pudemos medir o fracasso da Copa de 2014 por aquela abertura, e se pudermos medir alguma coisa por essa do Fernando Meirelles, as Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016, serão um sucesso estrondoso ;-)
Para ir além
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Postado por Julio Daio Borges
Em
6/8/2016 às 13h05
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