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Segunda-feira,
15/8/2016
Musgos verdes numa vila da lembrança, sou paisagem
Aden Leonardo Camargos
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Foto: Jian Quing (La Bioguia)
É algum ano lá na frente. Hoje é um dia comum e mal lembro qual é. Já não conto de dia três em dia três. Tudo sempre foi impossível e da saudade, acostumei. Li mais que meu medo permitia. Precisei para fingir que te esquecia.
Sirvo café. Sou velha. O tempo é o medo da vida. Tudo que não vivemos passou. Ficou nessa xícara que olho todas as manhãs, a borra fina da lembrança seca.
Seu rosto coloquei num quadro de flores coladas. Só me tornei aquelas escolhas melhores que você fez. Ainda tenho o gosto daquele dia que era noite. Que me restava um pedaço, sempre partido e ido de você. A palavra “acabou” saiu da minha boca ou mente, fui morrendo devagarinho. De onde saem as palavras? Estou morrendo por palavras. Morrendo por fim. De acabar com aquilo que não foi. Morte é palavra certa, tem uns olhos de passado, cheiro guardado.
Chegou mais gente, pediram café. Ligo a TV, mostro o jornal de São Paulo. Viro minhas costas curvadas onde guardei um desenho da coragem que você não teve.
Viver em silêncio foi a flecha mais heroica de te ver passar de vez em quando, ali, lá onde vive o certinho. Eu e a flecha desenhada, costuramos caminho inverso, anverso, transverso... Definido, pontilhado e só por si só e só por isso, me vi no caldo do café desperto. Desses todos dias longes.
Sorri, servi... meus pratos têm frases poéticas e cada café um autor. Para esses agora, gritei como me permite:__ Quero que seja feliz também, meu bem! Com Pessoa! PLIM. Tá pronto. Só pegar no balcão.
Vendo em minha casa pequenas felicidades, faturadas no cartão. As pessoas gostam do que me nasceu: musgos verdes numa vila da lembrança.Sou paisagem.
Postado por Aden Leonardo Camargos
Em
15/8/2016 às 09h44
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