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Segunda-feira,
3/10/2016
A Doria, o que é de Doria
Julio Daio Borges
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Votei na Marta. Era a minha candidata. Perdeu. Reconheço
Mas no segundo turno, como ela não ia passar, ia votar no João Doria. Nunca no Haddad. Nem no Russomanno
Eu achava a Marta a melhor escolha, porque ela já tinha experiência prévia da cidade. E, fora do PT, ela parecia ter se livrado daquele "ranço" esquerdista. Parecia mais amadurecida e mais disposta a deixar um "legado". E ela tinha o melhor vice, Andrea Matarazzo
Só que a Marta ficou indecisa. Mesmo ferida pelo PT, não conseguiu atacar seu partido de origem. E os paulistanos não perdoaram. No reduto-mor do antipetismo, terminou rechaçada
Já João Doria foi muito hábil em captar as intenções de voto do antipetismo, que era a força motriz destas eleições. Algo como um desdobramento "eleitoral" do impeachment, da Lava-Jato e das manifestações
Eu não gostava do João Doria no começo, achava ele muito "ensaiado". Como alguém que tinha acabado de decorar seu texto. Nunca me convencia muito nos debates
Também achava ele muito "engomado". Ainda acho. Uma espécie de prefeito dândi. Ou, como se dizia em português do século XIX, um "janota"
Uma vez encontramos ele na Livraria Cultura do shopping Iguatemi, num daqueles eventos infantis da Catarina. Ele parecia um boneco de cera, esticado desde a roupa e com aquela cor rosada de bronzeamento artificial
Não que isso diga muita coisa da sua capacidade política. Mas eu achava ele um candidato muito "montado"
Contudo, ele fez sua lição de casa
E sua capacidade de trabalhar sempre foi lendária (disso eu já tinha ouvido falar...)
Observando as taxas de rejeição dos demais candidatos, ontem ficou, para mim, claro que um "outsider" tinha grandes chances de levar. Além do antipetismo, existe hoje a enorme repulsa pelos políticos tradicionais. E o fato de ele ter brigado com a cúpula do PSDB - o partido da oposição bananeira - parece tê-lo impulsionado ainda mais (o Diego também observou isso ontem)
Só que, agora, ele vai ter de ser *político* da mesma forma...
Na verdade, acho que já está sendo. Me pareceu muito respeitoso no último debate, mesmo com figuras arcaicas, como Luiza Erundina. A Marta, inclusive, já parecida ter se rendido ao seu charme. E, como observou Reinaldo Azevedo, numa boa análise da campanha toda, ninguém conseguia mais atacá-lo
Quem assistiu ao seu discurso da vitória, deve ter percebido que ele fez questão de agradecer a praticamente todo o PSDB. Não só ao governador Geraldo Alckmin, mas à família Covas, que lhe forneceu um vice, ao clã dos Montoro, até ao senador José Serra... Só faltou, claro, FHC, Aécio Neves... E Andrea Matarazzo
Como um filho pródigo, retornava agora ao ninho tucano, o mesmo que, durante as prévias, ele havia desagregado...
Ia quase me esquecendo da gestão. "Sou um gestor", foi a melhor definição de si próprio
E, mais uma vez, veio a calhar. Pois, a última coisa que Dilma foi, desde 2010, foi gestora. Ela nunca foi "gerentona". Isso foi um engodo. E ficou no inconsciente de muitas pessoas. Sobretudo, na mente dos paulistanos...
Na cidade que nunca para, João Doria "acelerou". E seu jingle insistia no "João Doria trabalhador". Mas outro tipo de trabalhador - bem diferente daqueles "trabalhadores"...
"O PT é o partido dos intelectuais que não pensam e dos trabalhadores que não trabalham", profetizou Roberto Campos, que nos deixou há 15 anos
Que João Doria trabalhe, portanto. E consiga executar aquilo a que se propôs
É difícil agradar ao paulistano. E, desde que me entendo por gente, não me lembro de nenhum prefeito unânime...
Mas ele deve tentar. Quem sabe, se revele um fenômeno, como se revelou nestas eleições? ;-)
Para ir além
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Postado por Julio Daio Borges
Em
3/10/2016 às 10h02
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