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Terça-feira,
11/10/2016
Seja bem-vindo, amigo 40 anos!
Marco Garcia
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Prezado 40 anos, desde adolescente sabia de sua existência. Conhecidos e parentes ostentavam orgulhosos seu nome na agenda. Se deleitavam com sua amizade, organizando listas com as benesses de tê-lo por perto.
Contavam que seu jeito era garantia de experiência, que certas mulheres reparavam mais neles, que aprenderam a ver o mundo de forma diferente, descobriram o prazer de viajar, despertaram para a leitura, desenvolveram gosto pelas artes, educaram o paladar – com iguarias mais leves no cardápio –, começaram a caminhar, se matricularam em academias, passaram a ouvir mais do que falar, aprenderam a não entrar em discussões intermináveis por futebol, política e religião, e a dar valor a uma boa prosa com pessoas de mais idade.
Em suma, agradeciam por lhes ter incutido na mente a necessidade de desacelerar a vida. Passaram a citar menos a máxima: “tudo que gosto é ilegal, imoral e engorda” e a ouvir: “quem te viu e quem te vê, hein?”. Assumiram nova roupagem, linguagem, postura, quase que mudaram de identidade. Até os gestos eram diferentes.
Olha só, não que eu goste de fofoca, mas tinham os que reclamavam muito da sua companhia, tá? Sei lá, demonstravam um certo incômodo em ter que dividir a vida contigo. As desculpas eram variadas e uma em comum. Diziam que você causava medo e que se pudessem jamais o teriam como amigo. Infelizmente, você era como o voto: obrigatório.
Eu, particularmente, nunca entendi o porquê de tanto pavor. Sempre os questionei, e a resposta era sempre a mesma: “quando tiver o desprazer de conviver com ele, saberá”.
Achava engraçado quando diziam que, graças a Deus, tal afeição tinha data e hora para acabar, mas que, por infortúnio da natureza, estavam fadados a iniciar novo ciclo com um irmão seu muito pior, o 50 anos. Como a desgraça nunca vem desacompanhada, maldiziam sua mãe por haver gerado tão drástica prole. E praguejavam contra seus outros irmãos: o 60, o 70, o 80 e o 90 anos.
Meu caro, neste momento em que partimos da fase embrionária para nossa fortuita convivência, quero ceder espaço exclusivo para o seu lado bom. Por enquanto, me esquivo de saber dos malefícios que você e sua família podem me trazer. Nossa amizade ainda engatinha, por isso quero curtir sem reservas sua presença na minha vida.
Que possamos curtir o que Deus nos proporciona. Que você seja o parceiro de minhas melhores aventuras. Que me ensine as coisas do futuro, sem pular etapas. Seja benevolente comigo e deixe para seus irmãos a missão de maltratar o meu corpo. Que, daqui para frente, as virtudes superem os pecados. Que a guerra contra o tempo me seja amena. Nada asfixiante. Quero fôlego.
Vamos viver.
Seja bem-vindo, amigo 40 anos!
*Marco Garcia é jornalista paulistano. Mora em Fortaleza.
Postado por Marco Garcia
Em
11/10/2016 às 11h28
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