Duas Vidas | O Equilibrista

busca | avançada
58874 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Exposição As Mulheres Cabaças celebra a força feminina indígena
>>> Concurso Curta Campos do Jordão
>>> Eu Amarelo: Espetáculo celebra Carolina Maria de Jesus na Caixa Cultural SP
>>> Mario Tommaso lança CD Rasga o Coração: poemas e canções de amor para o nosso tempo
>>> Paço Municipal de São Bernardo do Campo recebe o infantil VerDe Perto, o Musical Ecológico
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> L'italiana in Algeri par Georges Prêtre
>>> Le siège de Corinthe par Solti
>>> DeepSeek by Glenn Greenwald
>>> David Sacks no governo Trump
>>> DeepSeek, inteligência que vem da China
>>> OpenAI lança Operator
>>> Um olhar sobre Frantz Fanon
>>> Pedro Doria sobre o 'pobre de direita'
>>> Sobre o episódio do Pix
>>> Eric Schmidt no Memos to the President
Últimos Posts
>>> Teatro: Jacó Timbau no Redemunho da Terra
>>> Teatro: O Pequeno Senhor do Tempo, em Campinas
>>> PoloAC lança campanha da Visibilidade Trans
>>> O Poeta do Cordel: comédia chega a Campinas
>>> Estágios da Solidão estreia em Campinas
>>> Transforme histórias em experiências lucrativas
>>> Editora lança guia para descomplicar vida moderna
>>> Guia para escritores nas Redes Socias
>>> Transforme sua vida com práticas de mindfulness
>>> A Cultura de Massa e a Sociedade Contemporânea
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Roland Barthes e o prazer do texto
>>> Ode à Mulher
>>> O triunfo da mediocridade
>>> Precisa-se de empregada feia. Bem feia.
>>> Jean-Christophe Rufin e o Pau-Brasil
>>> Armadilhas da criação literária
>>> Hércules reduzido a lenda
>>> O batom na cueca do Jair
>>> Semana da Canção Brasileira
Mais Recentes
>>> Salvação de Sholem Asch pela Perspectiva (1973)
>>> Reiki. Medicina Energética de Libby Barnett E Maggie Chambers pela Nova Era (1999)
>>> Ensinar e aprender: Sujeitos, saberes e pesquisa de Célia Frazão Linhares e outros, pela Dpma (2000)
>>> Casa Das Estrelas. O Universo Pelo Olhar Das Criançaas de Javier Naranjo pela Planeta Do Brasil (2018)
>>> Principe Siddharta. A Fuga Do Palacio de Patrica Chendi pela Rocco (2000)
>>> Estudos De Prosódia de Ester Mirian Scarpa pela Unicamp (1999)
>>> Palavras Denotativas E Termos Afins de Ricardo Cavaliere pela Eduff (2009)
>>> Dicionario De Linguistica de Jean Dubois pela Cultrix (2011)
>>> Experimento Da Intenção de Lynne Mctaggart pela Rocco (2010)
>>> A dramática história da fé Cristã de J J Van Der Leeuw pela Pensamento (1987)
>>> Gênero e diversidade na Escola Caderno de atividades de Mec pela Uerj/ Outros (2009)
>>> O Aleph de Paulo Coelho pela Sextante (2010)
>>> O Segredo Do Violinista de Eva Furnari pela Moderna (2010)
>>> O Menino Do Pijama Listrado de John Boyne pela Companhia Das Letras (2007)
>>> Marcelo, Marmelo, Martelo de Ruth Rocha pela Salamandra (2011)
>>> O Mundo De Sofia de Jostein Gaarder pela Cia. Das Letras (1995)
>>> Por Que Fazemos O Que Fazemos? de Mario Sergio Cortella pela Planeta Do Brasil (2017)
>>> O Menino Do Dedo Verde de Maurice Druon pela José Olympio (2018)
>>> O Poder Dos Pais Que Oram de Stormie Omartin pela Mundo Cristao (2001)
>>> Como Fazer Amigos E Influenciar Pessoas Na Era Digital de Dale Carnegie pela Companhia Editora Nacional (2011)
>>> O Livro De Oura Das Ciências Ocultas de Friedrich W. Doucet pela Ediouro Publishing (2001)
>>> Criando Meninas - Madchen de Gisele Preuschoff pela Editora Fundamento (2011)
>>> Legislacao Penal Especial - Vol.24 de Victor Eduardo Rios Gonçalves pela Saraiva (2015)
>>> Encontre Deus Na Cabana de Randal Rauser pela Planeta (2009)
>>> Poesia Fora Da Estante de Vera Aguiar pela Projeto (2007)
BLOGS >>> Posts

Terça-feira, 3/1/2017
Duas Vidas
Heberti Rodrigo
+ de 2100 Acessos


Matisse


A vida de uma pessoa não é o que lhe acontece, mas aquilo que recorda e a maneira como o recorda. Gabriel Garcia Marquez


Como um ritual, todas as manhãs descerrava as janelas antes de sentar-se à mesa de trabalho. Não a movia apenas a necessidade de inspirar o frescor do ar das montanhas que lhe infundia alento e serenidade, mas porque sentia igualmente vontade de iluminar. Agradava-lhe sobremodo ver a luz natural penetrar cada cômodo, como se apenas esta fosse capaz de reavivar a singularidade de cada detalhe. A luminosidade das lâmpadas parecia suscitar-lhe frieza, lançando sobre seus quadros, livros e plantas uma espécie de superficialidade monótona, como uma camada de poeira a lhes furtar o brilho de uma vida interior rica. Sim, para ela, os livros e os quadros e as plantas tinham uma vida própria, e rica. Para ela, riqueza era sentir-se viva. Sem a luz natural, tornar-se-iam pálidos e inexpressivos. Morreriam. Ela própria, nos dias em que não abria as janelas, tornava-se inexpressiva. Não era assim que gostava de se sentir, sobretudo quando encostava a porta do quarto e sentava-se à mesa com a intenção de escrever, logo após as crianças terem saído para a escola. Sozinha, apagava uma a uma das luzes que os meninos haviam deixado acesas para trás e descerrava cortinas e janelas banhando a si própria e tudo derredor na iridescente luz solar. Esses momentos solitários, vividos numa mudez contemplativa, eram os que precediam sua escrita. Desta maneira, religiosamente, viveu todas aquelas manhãs de março. Nos últimos dias, entretanto, o que mais lhe chamara a atenção foi o azul com tonalidades cada vez mais acinzentadas. Céu pouco brilhante, montanhas pardacentas – tudo agora de cor e brilho pouco celestiais. Não mais havia aquelas nuvens de todos os tipos e tamanhos que a alegrava mostrar para as crianças. Cada uma do seu jeito – aladas, alvas e macias, pequenos tufos de algodão doce, bolachas douradas quase duras, grandes montanhas brincalhonas, ilhotas purpúreas e melancólicas. Era como se todas tivessem dado lugar àquela incomensurável massa monótona e sonolenta. Era assim, observando a mudança na luminosidade dos dias que sabia que o outono chegara. Não que se ressentisse com a ausência do azul cerúleo. A verdade, a pura verdade, é que lhe propiciava uma felicidade sem limites essa luz acinzentada que empalidecia suas manhãs ao mesmo tempo em que sentia compensá-la tornando-a mais sensível para o mais íntimo de seu ser. Assim, durante todo o outono, ela se organizou para se recolher tão logo tivesse colocado as crianças para dormir. Queria levantar antes de todos e ficar sozinha tomando sua xícara de café nos minutos que antecedem a aurora. Nos dias em que não escrevia esta lhe era a hora das horas, pois antes de o sol vir a ser encoberto por um céu monótono e cinzento, ela sabia que durante um breve instante poderia sentir o seu efêmero, mas essencial, alento. Então, com uma felicidade que não é deste mundo diante de si, percebia o quanto se tem de esperar para viver semelhante momento. Brilhar como aquele sol outonal, com a sua luz cambiante a quebrantar um pouco da palidez de todos aqueles dias era algo que perseguia. Ser “efêmera mas intensamente vibrante”. Contemplando o sol, comparava-se a ele. Iluminar os pequenos detalhes de seu mundo interior, reavivá-los e compartilhá-los por meio de sua escrita era o que a fazia se sentir viva. Não podia viver apenas num mundo fora dela: no mundo de seus pais, no mundo de seus amigos ou mesmo no mundo de seus filhos. Precisava criar o seu próprio mundo, uma atmosfera em que pudesse respirar e recriar-se quando se sentisse destruída pelo próprio viver. Sem escrever, se perderia. Não seria capaz de recomeçar, de se reconciliar com os outros e doar-se a eles. Não lhe seria possível experimentar a vida duas vezes, e intensamente: no momento em que a vive e, em retrospectiva, ao rememorá-la na criação de seus personagens. Sufocaria numa rotina fria, artificial e sem brilho. Morreria. Sabe disso porque nos dias em que não escreve se sente como se lhe fosse indiferente o sol surgir ou não no horizonte.

Novo Blogue:http://oequilibristanacorda.blogspot.com.br/

Contato: [email protected]


Postado por Heberti Rodrigo
Em 3/1/2017 às 22h55

Mais O Equilibrista
Mais Digestivo Blogs
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!

* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




Mimesis
Celia Monte
Scortecci
(1998)



Sonhos e Feitiços
Guimarães Júlia
Caramelo
(2004)



The Riddle of the Pyramids
Kurt Mendelssohn
Praeger
(1974)



Além do Sucesso 476
Jeffrey L. Gitterman
Clio
(2013)



Os parceiros do Rio Bonito 456
Antonio Candido
Livraria Duas Cidades
(1982)



Livro Infanto Juvenis A Vingança de Electra
Luiz Galdino
Ftd
(1998)



Senhora Rezadeira
Denise Rochael
Cortez
(2004)



Livro Literatura Estrangeira Música Fúnebre
Morag Joss
Companhia das Letras
(2003)



History of the German General Staff
Walter
Ballantine Books
(1962)



Sacher Masoch 1836-1895
Bernard Michel
Rocco
(1992)





busca | avançada
58874 visitas/dia
1,9 milhão/mês