O tempo não tem pressa
e lentamente
erige em seu lugar as deslembranças
pedaços de hiatos
fragmentos de espaço
decompondo a memória
e sua história.
O sorriso paterno
esbatido na distância
já é um rictus
nem riso nem sorriso
e sua voz não soa mais no ouvido.
O retrato da casa em si tão vívido
desenhado em relevo na saudade
vira saudade só
sem corpo apenas mito.
Assim o tempo desconstrói a sua obra
acrônica e atópica
que se afirma por si
tão metafísica quanto metafórica
de vácuo preenchida
na sua imponderável engenharia.
Ayrton Pereira da Silva
(in Umbrais, Sette Letras, 1977)