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Segunda-feira,
15/5/2017
Antonio Candido
Julio Daio Borges
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Antonio Candido era mais citado do que lido, como sói acontecer com algumas figuras da vida intelectual brasileira
Não li Formação da Literatura Brasileira, o que talvez seja um pecado mortal para alguém que se atreve a escrever um texto sobre ele. Mas o fato é que encontrei o livro, para vender, uma ou duas vezes na vida. E arrisco dizer que esteja "fora de catálogo", como sói acontecer com muitos clássicos brasileiros também
Li, outrossim, Textos de Intervenção, mas confesso que achei OK - nada de mais, nem de menos. Não era assim uma "Brastemp" (nem, muito menos, um "Antonio Candido")
Minha impressão é de que, em torno dele, foi construída uma aura meio santa - no sentido de que tudo o que citavam dele era considerado "a última palavra" em matéria de literatura brasileira (como se fosse uma espécie de Harold Bloom dos trópicos, tendo escrito seu Cânone Ocidental Brasileiro)
Nem era o meu crítico literário favorito. Prefiro Wilson Martins, de quem não consigo ler História da Inteligência Brasileira - mas de quem já li dois volumes da série "Pontos de Vista" com enorme prazer
Justiça seja feita: republicamos dele, no Digestivo, uma "memória" de Mário de Andrade - que é tocante, mesmo para quem não gosta de Mário (ou não sabe nada sobre ele)
Lembro mais *desse* Antonio Candido - do comentário breve, do improviso, do "causo" - do que do Antonio Candido "canônico"
É o mesmo de documentários recentes e de "aparições" breves na USP - já que estava afastado, havia muito, da "lida"
Historicamente, fez parte da santíssima trindade da revista "Clima" (outra mais citada do que lida), junto com Décio de Almeida Prado (na área do teatro - talvez mais legível e mais disponível que Antonio Candido em livro) e Paulo Emílio Salles Gomes (esse na área de cinema - reeditado fartamente pela Cosac Naify)
Para dessacralizar, cito a expressão de Oswald de Andrade, que apelidou os três de "chato boys". Oswald não perdoava ser criticado. E, embora fosse maldoso nas piadas, a expressão deve fazer algum sentido (caso contrário, não teria graça)
Last but not least: Antonio Candido foi membro-fundador do PT - o que, por esse "feito", o coloca no mesmo "panteão" de Sergio Buarque de Hollanda (para a intelectualidade brasileira "de esquerda")
Aliás, é de Antonio Candido - para uma das edições comemorativas de Raízes do Brasil - um trecho que selecionei e usei como epígrafe na minha coletânea de "A Poli como Ela é..." (meu primeiro texto mais conhecido)
E é irônico que, junto com a citação de Candido, eu tenha escolhido uma do Diogo Mainardi...
Um que ajudou a fundar o PT; o outro que ajudou a *afundar* o PT
Um que deu "adeus" à literatura. Outro que, no Brasil, virou quase sinônimo dela
Para ir além
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Postado por Julio Daio Borges
Em
15/5/2017 às 16h16
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