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Segunda-feira,
29/5/2017
Chris Cornell
Julio Daio Borges
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Chris Cornell era a maior voz de Seattle
Evito usar o termo "grunge" porque acho reducionista. Ainda mais no caso de Cornell, que sempre cantou mais que a média dos roqueiros (eu disse roqueiros e, não, "metaleiros")
Kurt Cobain, do Nirvana, era o letrista. Eddie Vedder, do Pearl Jam, talvez seja o maior astro pop. Jerry Cantrell, do Alice in Chains, é o maior guitarrista. E Cornell, do Soundgarden, o melhor cantor
Além da sua morte precoce, é impressionante que em quase todas essas bandas tenha morrido alguém de forma trágica. Cobain se suicidou com uma arma. Tinha 27 anos. Layne Staley foi encontrado já em estado de putrefação (depois de uma overdose). Tinha 34 anos. E Cornell se enforcou num banheiro de hotel, na última quarta, depois de um show. Tinha 52 anos
O Nirvana estourou. O Pearl Jam de Eddie Vedder teve sucesso a médio/longo prazo. Talvez mais que qualquer outra banda de Seattle - porque caiu no "gosto médio" (Vedder sempre fez sucesso entre as menininhas...)
O Alice in Chains alcançou, em francês, o que se chama de "succès d'estime" (sucesso entre iniciados). Já o Soundgarden foi o que teve menos sucesso - e talvez fosse, musicalmente, o grupo mais sofisticado. Basta ouvir "Badmotorfinger", de 1991
Maior que essa injustiça toda é o fato de que, talvez, Chris Cornell foi o maior músico da geração Seattle
Ele teve a voz de um bluesman e o próprio Soundgarden soava como uma mera banda "de apoio" para seus vocais. Afinal, o Soundgarden nunca passou de uma versão "anos 90" para o primeiro Black Sabbath. Com a diferença de que Cornell cantava muito mais que Ozzy Osbourne. E, muito provavelmente, se ombreava com Ronnie James Dio - embora, musicalmente, fosse mais versátil
Quando Michael Jackson morreu, a melhor versão de "Billie Jean", na praça, era uma acústica de Chris Cornell. E eu poderia falar de sua versão para "Nothing compares 2 U", de Prince - mas prefiro lembrar de Brad Mehldau, um pianista de jazz, tocando "Black Hole Sun" (do último disco do Soundgarden que vale a pena, "Superunknown", de 1994)
No início dos anos 90, quando o grunge estourava, já se falava na "carreira solo" de Chris Cornell. Mas, embora conseguisse bom espaço na imprensa, para suas turnês solo, sua carreira solo nunca decolou de fato
O mais perto que esteve do mainstream, depois do grunge e do clipe de "Jesus Christ Pose", foi com "You know my name", da trilha sonora de "Cassino Royale", o "remake" de 2006
Uma das maiores fatalidades é um grande talento não encontrar o sucesso de fato...
Primeiro, Cobain com aquele fiapo de voz rouca. Depois, Staley, que, praticamente, só gritava. Na sequência, a consagração "pop" de Vedder. E, por último, Dave Grohl, com o Foo Fighters - que, como baterista do Nirvana, até enganava; mas, como cantor, é, convenhamos, "o sub do sub"...
Se somar todos, não dá um Chris Cornell. Que sua morte precoce, ao menos, sirva para redimensionar sua importância
O grunge, como modismo, era uma bobagem. Mas a geração de Seattle, de fato, foi a última do rock
Para ir além
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Postado por Julio Daio Borges
Em
29/5/2017 às 14h24
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