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Sábado,
24/6/2017
A mulher de Lot
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
+ de 600 Acessos
Não era incrédula. Curiosa, tampouco.
Para a cidade dos aflitos a mulher de Lot se voltou,
adivinhando a repetição dos Pecados Capitais
nos caminhos da Terra. Por isso, fitou os caules das chamas
que ardiam palavras do texto sagrado. E calcinavam
o azul das hortênsias junto ao muro da casa.
Não por acaso. Não por teimosia.
Por temer o fogo que sibilava ao seu rastro,
a mulher de Lot observou a campina.
E apiedou-se das galinhas ciscando.
E das cabras no cio.
Para trás, ela conduziu o olhar,
desejosa que as chamas não lhe destruíssem o sexo.
Nem as rendas dos lençóis.
Nem a madeira da cama.
Fitando recordações,
a mulher sem nome podia entrever ao longe
alternado trabalho das aranhas
refazendo ninho ou veneno
sob o piso do quarto.
Na demora das cinzas sobre a cidade morrente,
a mulher de Lot enxergou males mais antigos
que a impotência da queima ante o cajado da agonia.
Ou ante a cobiça do ouro.
À perdição do mundo, ela direcionou olhos e lágrimas,
para relembrar nas profecias o caminho da discórdia.
Seguindo labaredas, o olhar daquela mulher
anteviu a multiplicação da miséria humana.
E o milagre dos peixes.
E naquele momento olhou para trás.
Depois, logo depois, fixos na estrada de barro,
seus olhos de estátua surpreenderam nas cores do dia
toda a claridade luzente em sua pele cristalina.
E uma vez mais ela contemplou a cidade destruída.
Quem sabe,
para guardar distância de algum rio flamejante
que lhe pudesse engolir o corpo de sal?
Postado por Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
Em
24/6/2017 às 09h19
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