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Sábado,
1/7/2017
A xícara do poeta (série: Objetos)
Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
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Para Rogel Samuel
“Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso,
ela nos espia do aparador.”
Carlos Drummond de Andrade
Quantos pedaços de nada e de tudo,
quantos restos de pensamento, inquietude,
improviso, a respirar nos objetos de estimação.
Afugentando fantasmas na sala de refeições,
imagino a xícara do poeta.
À origem dos fragmentos, eu a imagino
de porcelana. Vejo-a pulsante. E, em mim,
reconheço movimentos desse objeto surgido
de tátil sopro no caulim.
Feita de acaso e intenção, a xícara no aparador
aguarda a bebida quente. E espera o açúcar,
na porção exata, que lhe dará leve sabor
à existência.
Aquiescendo ao uso e desuso do dia a dia,
em sua concha o líquido evaporou em ritmo
de esgotamento.
Na asa, debate-se o tempo
em ritmo de espera.
Ao cotidiano desta peça feita de fragmentos,
posso ver o poeta cortando pedacinhos de pão
para mergulhá-los no café.
No bojo dessa nossa xícara, vicejam miosótis.
Festejando pedaços da vida.
(Do livro 50 poemas escolhidos pelo autor. Rio de Janeiro: Galo Branco)
Postado por Mirian de Carvalho (e-mail: [email protected])
Em
1/7/2017 às 09h45
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