O youtuber é um novo dândi? | Relivaldo Pinho

busca | avançada
89046 visitas/dia
1,9 milhão/mês
Mais Recentes
>>> Hospital Geral do Grajaú recebe orquestra em iniciativa da Associação Paulista de Medicina
>>> Beto Marden estreia solo de teatro musical inspirado em Renato Russo
>>> Tendal da Lapa recebe show de lançamento de 'Tanto', de Laylah Arruda
>>> Pimp My Carroça realiza bazar de economia circular e mudança de Galpão
>>> Circuito Contemporâneo de Juliana Mônaco
* clique para encaminhar
Mais Recentes
>>> Do lumpemproletariado ao jet set almofadinha...
>>> A Espada da Justiça, de Kleiton Ferreira
>>> Left Lovers, de Pedro Castilho: poesia-melancolia
>>> Por que não perguntei antes ao CatPt?
>>> Marcelo Mirisola e o açougue virtual do Tinder
>>> A pulsão Oblómov
>>> O Big Brother e a legião de Trumans
>>> Garganta profunda_Dusty Springfield
>>> Susan Sontag em carne e osso
>>> Todas as artes: Jardel Dias Cavalcanti
Colunistas
Últimos Posts
>>> Lisboa, Mendes e Pessôa (2024)
>>> Michael Sandel sobre a vitória de Trump (2024)
>>> All-In sobre a vitória de Trump (2024)
>>> Henrique Meirelles conta sua história (2024)
>>> Mustafa Suleyman e Reid Hoffman sobre A.I. (2024)
>>> Masayoshi Son sobre inteligência artificial
>>> David Vélez, do Nubank (2024)
>>> Jordi Savall e a Sétima de Beethoven
>>> Alfredo Soares, do G4
>>> Horowitz na Casa Branca (1978)
Últimos Posts
>>> Escritor resgata a história da Cultura Popular
>>> Arte Urbana ganha guia prático na Amazon
>>> E-books para driblar a ansiedade e a solidão
>>> Livro mostra o poder e a beleza do Sagrado
>>> Conheça os mistérios que envolvem a arte tumular
>>> Ideias em Ação: guia impulsiona potencial criativo
>>> Arteterapia: livro inédito inspira autocuidado
>>> Conheça as principais teorias sociológicas
>>> "Fanzine: A Voz do Underground" chega na Amazon
>>> E-books trazem uso das IAs no teatro e na educação
Blogueiros
Mais Recentes
>>> Gabeira sobre os protestos
>>> A Symphonia da Metropole
>>> Bar ruim é lindo, bicho
>>> A crise dos 28
>>> Animismo
>>> Expectativas e apostas na Copa de 2010
>>> Paixão e sucata
>>> A pulsão Oblómov
>>> O papel aceita tudo
>>> Figurinhas
Mais Recentes
>>> Hades de Alexandra Ardonetto pela Agir (2012)
>>> Os Exilados Da Capela de Edgard Armond pela Aliança (1999)
>>> Oração na Ação - contribuição à espiritualidade da libertação de Frei Betto pela Civilização Brasileira (1977)
>>> Tirando Os Sapatos: O Caminho De Abraão, Um Caminho Para O Outro de Nilton Bonder pela Rocco (2008)
>>> Subsídios Para a Arché da Teologia de Pe. Achylle Alexio Rubin pela Palotti (2001)
>>> O dador Alegre de Mario Satz pela Ground (1992)
>>> A Flauta Mágina de Wolfgang Amadeus Mozart; Emanuel Schikaneder pela Sem editora (2004)
>>> Invocadores Do Mal de Cheryl A Wicks pela Grupo Pensamento (2016)
>>> Kafka E A Boneca Viajante de Jordi Sierra I Fabra pela Wmf Martins Fontes (2008)
>>> Excecao de Christian Jungersen pela Intrinseca (2008)
>>> Che - Uma Vida Revolucionaria. Romance Grafico de Jon Lee Anderson pela Quadrinhos Na Cia. (2022)
>>> A Magia Egípcia de E A Wallis Budge pela Cultrix (1999)
>>> Piramide Vermelha - Vol. 1 de Rick Riordan pela Intrinseca (2010)
>>> Uma História De Amor NO Ano - Novo Lunar de Gene Luen Yang Leuyen Pham pela Alt (2024)
>>> Os Nódulos Lunares - Astrologia Cármica - 1 de Martin Schulman pela Agora (1987)
>>> A Torá: Um Comentario Moderno de União do Judaismo reformista pela União do Judaismo reformista (2021)
>>> Photo Poche de Cosacnaify pela Cosacnaify (2011)
>>> Conselho De Amiga de Siobhan Vivian pela Novo Conceito (2012)
>>> Obras de Eça de Queiroz Volume 3 (três) de Eça de Queiroz pela José Aguilar
>>> Mitanálise Junguiana de Pierre Solie pela Nobel (1985)
>>> Por Que Ele Não Ligou De Volta? de Rachel Greenwald pela Best Seller (2021)
>>> Periféricos de William Gibson pela Aleph (2020)
>>> Obras completas - I da filosofia de Delfim Santos pela Calouste Gulbenkian
>>> 44 Sonhos, Caminhos e Sorrisos de Luís Alexandre Chicani pela Do autor (2021)
>>> Obras de Eça de Queiroz Volume 2 (dois) de Eça de Queiroz pela José Aguilar
BLOGS >>> Posts

Quarta-feira, 5/7/2017
O youtuber é um novo dândi?
Relivaldo Pinho
+ de 1400 Acessos


Charles Baudelaire, por Gustave Courbet


Youtuber é como denominam hoje os que falam sobre determinado tema em vídeo na internet. Nem todo mundo se interessa por eles, mas muita gente os leva em estima. Fala sobre qualquer coisa, de política à maquiagem; de filosofia a jogos eletrônicos.

Personagem frequente nas telas do ciberespaço, imagina caminhar com facilidade pelas vias de uma experiência que o diferencia, que o qualifica como um comentador do contemporâneo. Seria um dândi que nos reconecta a um mundo que, agora, nos parece distante, seria um connoisseur de platitudes, ou apenas quer ser adorado em sua expressão midiatizada?

O dândi é um tipo que atingiu seu auge na modernidade. Para Baudelaire (O pintor da vida moderna, 1863) ele encarnava um ideal heroico, um tipo de reação, com seu desapego pelas coisas “vulgares” (dinheiro, amor, por exemplo) e iria muito além de sua elegância nas vestes e sua delicadeza no trato. “Para o perfeito dândi essas coisas são apenas um símbolo de superioridade aristocrática de seu espírito”.

Brummel (1778-1840), Byron (1788-1824) e o próprio Baudelaire (1821-1867) encarnaram esse tipo. Baudelaire, evidentemente, o menos apto deles, não porque não era dotado de retórica, ou gênio, mas porque “não tinha o dom de agradar, um elemento tão importante na arte de não agradar do dândi” (Benjamin, Paris do Segundo Império).

A visão de Baudelaire é, como podemos ver, bem diferente de uma conotação negativa que a ideia do estilo dândi ganhou. De reação aristocrática, de um comportamento estoico, como o caracterizava o poeta francês, o dandismo virou, também, sinônimo de extremo exagero, de afetação na indumentária e no comportamento.

Como vários produtos das mídias na internet, o youtuber desempenha os mais variados papeis. Mas pode-se dizer que um dos seus fundamentos é, também, acreditar ter o dom da retórica e da persuasão. Imagina-se (e imaginam-no) suficientemente seguro; pode parecer prosaico, mas pode parecer revelador; pode falar de esmalte, mas pode falar de Matisse.

Poderíamos pensar que esse é apenas um dos muitos indícios de nossas novas arenas onde os “leões” (um dos epítetos do dândi, segundo o livro organizado por Tomaz Tadeu, Manual do dândi: a vida com estilo) contemporâneos travam a batalha da atenção.

Se, para Baudelaire, ele era “uma espécie de culto de si mesmo, que pode sobreviver à busca da felicidade a ser encontrada em outrem, na mulher, por exemplo, que pode sobrevier, inclusive, a tudo a que chamamos ilusões”; para o nosso dândi, talvez, o culto de si mesmo esteja intrinsicamente ligado ao “amor” de outrem; de um coração a ser clicado.

Talvez, diferentemente do dândi “clássico” (um oxímoro), o contemporâneo não busque apenas “o prazer de provocar admiração e a satisfação orgulhosa de jamais ficar admirado”. Sua admiração pode se localizar na arena que ele vê e que o aplaude.

O ócio (tédio), arma e acessório do dândi do Século 19, pode ser um dos elementos do navegador cibernético de nossas telas e de nossos ávidos olhos tripulantes, pode ser emulação, mas, talvez, também seja a moeda forjada nas nossas, das mais complexas às mais ordinárias, incompletudes.

Para Baudelaire o dândi participaria de um ideal comum, ideal raro já naquela época (sempre?): “combater e destruir a trivialidade”. O tom de heroísmo que o autor de As flores do mal devota ao seu personagem se liga ao seu estilo, à sua vida, mas, acima de tudo, à sua época.

Baudelaire queria que um certo heroísmo vicejasse em uma época em que a poesia, por exemplo, já era mais uma atividade mercantil. Parte do fascínio de um poeta maldito viria dessa indolente insubordinação. Queria ser lido, mas não queria precisar encenar (isso, talvez, como sabemos, pensando em Baudelaire, sempre seria perigoso afirmar) um assassinato para isso.

Na semana passada uma norte-americana disse ter, acidentalmente, matado seu namorado porque ele queria fazer um vídeo para publicar na internet em que ela atirava nele e ele conteria a bala com um livro. A tia do rapaz teria dito que ele queria fazer um vídeo porque o casal desejava mais espectadores para seu canal, queriam ser famosos.

Baudelaire diria: “Mas um dândi nunca pode ser um homem vulgar. Se cometesse um crime, talvez não se desagradasse; mas, se esse crime tivesse uma causa trivial, a desonra seria irreparável”.

Em 1863, o poeta ainda imaginava um homem altivo, com estilo, um dândi, mesmo em uma situação trágica. Hoje, a tragédia estilizada (ainda se considera trágico?) não tem nada de altivez.


Relivaldo Pinho é escritor, pesquisador e professor.


Texto publicado em O Liberal, 04 de julho de 2017, p. 2.


Postado por Relivaldo Pinho
Em 5/7/2017 à 01h36

Mais Relivaldo Pinho
Mais Digestivo Blogs
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!

* esta seção é livre, não refletindo necessariamente a opinião do site

Digestivo Cultural
Histórico
Quem faz

Conteúdo
Quer publicar no site?
Quer sugerir uma pauta?

Comercial
Quer anunciar no site?
Quer vender pelo site?

Newsletter | Disparo
* Twitter e Facebook
LIVROS




O Poder dos Cinco - Limbo
Anthony Horowitz
Galera
(2014)



The Famous Five: Five Gt Into a Fix
Enid Blyton
Hodder Childrens Books
(2000)



Enciclopedia visual seres vivos 2
Vários autores
El tiempo
(1994)



Livro Gibis Cavaleiros do Zodíaco 6
Masami Kurumada
Conrad
(2004)



Disney Aladin
Abril Coleções
Abril Coleções
(2009)



Marx Em 90 Minutos. Coleção Filósofos Em 90 Minutos
Paul Strathern
Zahar
(2006)



Livro Infanto Juvenis Caligrafia Divertida Letra Bastão
Ciranda Cultural
Ciranda Cultural
(2013)



Livro Direito Juízes no Banco dos Réus
Frederico Vasconcelos
Publifolha
(2005)



Simbad o Marujo
Por Alaíde Lisboa Ilustrações de Angelo Abu
Peirópolis
(2014)



The Greatest Invention of All Time Intermediate Book A2
Nic Harris
Cambridge Discovery Education





busca | avançada
89046 visitas/dia
1,9 milhão/mês