Provindo de remotas mortas eras,
um vento errante veio vindo veloz
varrendo os tempos
e desfolhou as árvores com fúria,
parecendo trazer uma mensagem:
“ O que já foi será
e para sempre se repetirá.”
Folhas caídas encobriam as ruas,
os tetos, as calçadas,
as árvores nuas pareciam espectros,
vergadas em seus troncos sob o vento,
e o passaredo com terror calara.
As gentes se esconderam em suas casas,
ouvindo os estilhaços das vidraças,
coisas voando loucas sem ter asas.
Subitamente então passou o vento.
A paisagem foi-se aos poucos recompondo:
era o Futuro, um pesadelo escuro,
que trouxe o medo, trancado em seu segredo.
O que será, o que virá agora?, se perguntavam
mudos, sem articular qualquer palavra.
Um pesadelo que viveram em sonho
ou a verdade oculta do que somos?
Essa verdade, então, se esvanecera,
desfeita pelo sol do amanhecer.
Aquele dia jamais se apagaria,
sabiam todos, sim, todos sabiam
— e se fecharam sem nada dizer...
Ayrton Pereira da Silva