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Sexta-feira,
24/8/2018
O mundo era mais aberto, mãe...
Aden Leonardo Camargos
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Ei mãe! Eu tenho uma cafeteira elétrica, mas você não poderia entender a brincadeira. Nem sabia que eu queria ter. E lá fora hoje bem cedinho um sabiá cantou. Vai fechando agosto e eles começam aqui na nossa cidade, nesse cantinho do mundo, a cantar para a sabioua (sei que não é assim). Pode me corrigir, igual quando escrevo na sua mão que dia é hoje. Depois do banho. Quando é sábado e eu não coloco direitinho, você diz “põe acento no a”. Porque professores nunca deixam de ensinar. Acho que só sei que dia é hoje e ontem e amanhã porque escrevo na sua mão. Deve ser o único motivo para se saber. Que outro motivo importa?
Mas o sabiá cantou lá fora em alguma árvore que ainda resta dos nossos vizinhos. Eu mesma construí em cima do nosso quintal. Tenho nem cebolinha no vaso. Enfim, o assunto sabiá não vinga hein, nem há como definir, porque logo que ouvi, você abriu a porta da escada e me chamou, fraquinho feito som de sabiá... Setembro está chegando. Era quase isso, era dor. Parece que a vida vem dando um pote gelado de dor no seu corpo que é um pouco torto de dor, artrite ou artrose ou escoliose. Para mim são sinônimos de estradas cheias de curvas, difíceis de passar. Você está passando por ela. Pouco importa o nome. Artrite parece ‘ar triste’ que uma criança falou.
Veio uma melancolia, sabe mãe. E lembrei que a gente ia na Prassisporte nadar. Era esse nome, que a gente mineiro e criança aprende que é assim a palavra “Praça de Esportes”. Era um quarteirão redondo, como um super pão de queijo. Ainda é. Não é mais um clube que frequento e lembro da piscina azul e você de maiô preto me segurando. Lembrei das compras na “Cobal” como era tudo exposto e diferente de hoje. O macarrão, farinhas, tudo era aberto numa caixa inclinada. Dormia aberto, amanhecia aberto... A vida era mais aberta, mesmo que alguns bichos noturnos passassem por lá. Quem não tem ratos e baratas passeando na cabeça, né?
Eu ganhava um Chicabon se não pedisse nada, nadinha mesmo. A moça do caixa chamava-se “Márcia” e então você autorizava. A geladeira de picolés era enorme, tipo uma montanha que de baixo eu podia imaginar a neve. Eu não conseguia subir, eu era gorda... Posso amenizar e falar gordinha. Mas era gorda.
Tanto que só era chamada para os times de queimada. Era até preferida... Minha “bolada” fazia todo mundo correr. Agora vivo de dieta, malho e sou alguma coisa magra. Minha bolada nem existe e se eu fingir ter uma bola de futebol nas mãos, os meninos não correm mais de medo. Acho que era meio esse tal empoderamento da mulher, um começo. Vê lá hein mãe? Eu fundando essas palavras... Lá pelos anos 70. Empoderamento feminino é uma bola de queimada. Pronto. Está feito, igual Deus fez o mundo.
Agora estou esperando a hora de ligar para o doutor bonito. Ele é bonito de branco e com os olhos pacientes. Aquela calma de quem parece ser o Mágico de Oz numa cadeira que roda e comanda os mundos de cada um. Ele pode vir aqui te ver. Porque eu só sei ouvir o sabiá pequenininho que você se tornou. Não sirvo para acertar os remédios. Para que mesmo a gente serve, né, mãe? Pra quê?
Imagem: Google
Postado por Aden Leonardo Camargos
Em
24/8/2018 às 16h48
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