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Sábado,
27/10/2018
A Guerra Fria entre o Cinema e o streaming
Tadeu Elias Conrado
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Estamos na era on demand. O streaming está cada vez mais presente no nosso dia a dia. Hoje vemos pessoas assistindo filmes e séries enquanto estão a caminho do trabalho, escola, passeio. O avanço da tecnologia proporciona essa facilidade e cada vez mais surgem plataformas que oferecem o streaming, variando seus produtos e preços, tornando o serviço cada vez mais atrativo e acessível. Uma pesquisa feita pela Alexandria Big Data, para a Exame em abril, mostra que das 1596 pessoas entrevistadas, 64,7% das deixaram de ir aos cinemas para assistir filmes em casa. Algumas delas destacam a “liberdade de escolha”, já que as plataformas possuem um catálogo considerável, enquanto outras alegam que sua escolha é devido ao valor que se paga para ir ao cinema.
O tema ganhou destaque em grandes festivais de cinema. No dia 8 de setembro Roma, dirigido por Alfonso Cuarón e produzido pela Netflix, recebeu o Leão de Ouro, a maior honraria do Festival de Veneza. No dia seguinte o Festival foi criticado por membros do cenário cinematográfico italiano. A Associação Nacional de Autores Cinematográficos (Anac), a Federação Italiana de Cinema de Ensaio (FICE) e a Associação Católica de Cinema (Acec) protestaram contra a escolha alegando que a premiação de um filme que estivesse disponível para exibição online ao mesmo tempo em que chegasse aos cinemas italianos, seria prejudicial ao mercado. O longa On My skin, dirigido por Alessio Cremonini, que fala sobre os últimos dias de vida de Stefano Cucchi, também foi exibido durante o Festival, na seção “Horizons”, e chegou a plataforma no dia 12 de setembro, enquanto entrou em cartaz em poucos cinemas da Itália, o que reforça os protestos.
Mas o diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, defende a exibição e premiação de filmes independente de seus formatos de exibição. Na coletiva de imprensa em que apresentou o Festival, Barbera disse que não via razão para excluir um filme como o de Cuarón da competição só porque é produzido pela Netflix. Depois das críticas feitas pelas associações cinematográficas, Barbera reforçou sua ideia dizendo: "Todas essas controvérsias sobre as transformações que o cinema está passando são apenas o resultado da nostalgia, mas é importante olhar para frente".
O mesmo assunto foi discutido em Cannes, festival realizado de 8 a 19 de maio. Os filmes produzidos pela Netflix foram proibidos de participar da competição do Festival. Com isso, a empresa recusou-se a participar fora da competição, dando início a uma “Guerra Fria” entre a plataforma e os festivais. Diferente da Itália, na França existe uma lei que exige um intervalo de três anos entre o lançamento no cinema e a exibição em plataformas streaming, o que impediria a Netflix de reproduzir seu material assim que saísse do evento. Essa e outras decisões – relativas a selfies e uso das redes sociais – causaram alarde e fez com que muitos especialistas questionaram se o Festival de Cannes não está atrasado no tempo.
Está claro que o streaming está mudando o mercado fílmico. Embora não afete as produções, seu impacto nos cinemas é evidente. Talvez Barbera tenha razão em dizer que o cinema é mais uma questão nostálgica. Embora a experiência que temos ao ver um filme na Tela Grande não pode ser comparada a ver um filme na TV ou no celular. Mas é tudo uma questão de adaptação, como foi com o VHS, DVD e agora o streaming, até uma nova tecnologia tomar seu lugar. Podemos fazer uma comparação com o mercado musical e literário, onde produtos online tomaram conta das vendas, porém ainda existem aqueles saudosistas que preferem possuir o produto físico e, em relação ao cinema, não será muito diferente.
Postado por Tadeu Elias Conrado
Em
27/10/2018 às 17h20
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