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Segunda-feira,
7/1/2019
O Cinema onde os fracos não tem vez
Tadeu Elias Conrado
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Existe um cinema que, embora tenha atingido seu ápice nos anos 1930, começou ainda nos anos 1900. Foi com O Grande Roubo do Trem (The Great Train Robbery, 1907) que o western chegou às telas. Criado por Edwin S. Porter, que operou câmeras para Thomas Edson, o filme com pouco mais de 11 minutos deu origem às histórias que se tornariam grandes obras. Ver um western é ver a história dos Estados Unidos sendo contada.
Aliás, foram filmes de Ethan e Joel Coen que me inspiraram a escrever essa matéria. Os irmãos são responsáveis por dois filmes que levam o western ao seu auge. O primeiro é Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country for Old Man, 2007), um suspense que além de um bela fotografia, conta com excelentes atuações de Javier Barden e Josh Brolin. Outro filme é o recente A Balada de Buster Scruggs (The Ballad of Buster Scruggs, 2018), longa que reúne seis histórias que resgatam as características desse gênero clássico e o homenageia de forma célebre.
ONDE NASCERAM OS FORTES
John Wayne é referência quando se fala de western, mas ainda era desconhecido quando entrou em cena em No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939), uma das grandes obras primas dirigidas por John Ford. Esse foi só o primeiro trabalho que uniu os dois artistas. Depois do estrelato mundial de Wayne, os dois tiveram uma parceria que durou meio século. Mencionando rapidamente outras obras que uniram a dupla, estão Rastros de Ódio (The Searchers, 1956) e Rio Grande (1950), esse segundo no Brasil recebeu o título Rio Bravo, sabe-se lá porquê.
Os filmes de John Wayne e John Ford era o que chamamos hoje de Cinemão, feito para entreter o público. Mas havia um sujeito austríaco que fazia seus filmes mais políticos e por isso ganhou destaque na época. Seu nome era Fred Zinnemann (mesmo diretor de O Dia do Chacal) e o filme em questão é Matar ou Morrer (High Noon, 1952), clássico que rendeu o Oscar de Melhor Ator para Gary Cooper. O xerife William Kane (interpretado por Cooper) é o herói incorruptível que todos almejam ser. No filme um perigoso fora da lei deve chegar na cidade no trem do meio dia, o sujeito acaba de ser liberado da prisão que Kane o mandou. Então o recém casado xerife deixa sua lua de mel para depois e fica na cidade, adverso ao conselho dos cidadãos, para enfrentar seu rival.
A figura de William Kane é o que o EUA define como a imagem do homem norte americano, tanto que uma versão do filme foi guardada em uma cápsula que deve ser aberta em 2213. Matar ou Morrer é tenso a todo momento, deixando o bang-bang de lado e investindo em uma dramaticidade incomum para o gênero. Mas ainda assim, mesmo com trocas de tiro só na última cena, é um dos melhores westerns já feito e que possui enorme significância para o cinema e sociedade americana.
Outro diretor importante nos westerns dos dias de hoje é Quentin Taratino. Famoso pela quantidade de sangue unidos a sua técnica singular, o diretor entrou no jogo com Django Livre (2012), filme que busca muitas referências para montar uma verdadeira jornada do herói, repleta de plot twists. Outro ótimo filme do diretor, que levou o prêmio de Melhor Trilha Sonora em diversos festivais que participou, é Os Oito Odiados (Hateful Eight, 2015). Assim como Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1992), temos uma trama montada dentro de um único cenário, com pouquíssimas cenas externas, onde o verdadeiro vilão é o suspense psicológico.
O VELHO OESTE MACARRÔNICO
Com tudo, a Era de Ouro dos westerns não se limitou aos EUA. Alguns países da Europa aproveitaram o embalo e lançaram suas versões e a mais conhecida é o Spaghetti Western, o velho oeste italiano. Com o fim do western americano, que durou até os anos 1950, o faroeste macarrônico ganhou destaque e também revelou grandes atores e diretores. Um dos grandes nomes foi o diretor Sergio Leone, que traz em sua filmografia filmes como Por Um Punhado de Dólares (Per un Pugno di Dollari, 1964), Por Uns Dólares a Mais (Per Qualche Dollare in Più, 1965) e Era Uma Vez no Oeste (C’era Una Volta in West, 1969).
O movimento na Itália (e uma parte na Espanha) durou quase duas décadas e levou grande nomes em seus filmes. Entre eles está um ator que parece ser um dos maiores adoradores do gênero, Clint Eastwood. O ator e diretor participou de muitos filmes na época, tendo como principal personagem o Pistoleiro Sem Nome na trilogia do dólar, que além dos filmes já mencionados, fecha a série com Três Homens em Conflito (Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, 1966).
O VELHO SERTÃO
O que muitos não sabem é o que o Brasil também teve lá seus westerns. Na verdade, está mais para “nordesterns”, já que o cenário principal é o cangaço. Isso ficou claro em um dos primeiros filmes, O Cangaceiro (1953). O filme dirigido por Lima Barreto ganhou Cannes e a partir dele um ator chamado Maurício Morey viu potencial para o Brasil entrar no bang-bang. No ano seguinte, 1954, o ator estrelou Da Terra Nasce o Ódio, dirigido por Antoninho Hossri, seu irmão, que na época trabalhava como médico. A produção já ganhou destaque ao estrear no imponente Art Palácio, algo que era difícil de acontecer com produções pequenas. Seu sucesso foi tamanho que em 1958 o filme The Big Country, do diretor William Wyler, estreou no Brasil com o nome Da Terra Nascem os Homens, fazendo referência ao filme de Morey.
O nosso nordestern durou um bom tempo, passando pelo Cinema Novo bahiano, as pornô chanchadas paulista e as comédias de Mazzaropi. Mas um outro título que recebeu destaque foi o filme do diretor Osvaldo de Oliveira, Rogo a Deus e Mando Bala (1972). O filme mostra a batalha entre uma quadrilha de foras da lei e um grupo de justiceiros. O filme se inspira no oeste macarrônico da Itália, mas seus elementos e canções mostram que é um autêntico western tupiniquim.
WESTERN PARA REUNIR A FAMÍLIA
Nos EUA a TV também teve seu momento western. Os seriados era o que reunia a família na sala de estar durante alguns minutos do dia. Duas séries adaptadas são Os Pioneiros e Bonanza.
Os Pioneiros trazia uma família que migraram até Minnesota em busca de uma vida melhor, no ano de 1800. O seriado é uma adaptação dos livros de Laura Ingalls Wilder e ficou no ar entre 1974 e 1983. Outro seriado importante para o gênero é Bonanza. Com 14 temporadas transmitidas entre 1959 e 1973, a série seguia o dia a dia do viúvo Ben Cartwright, interpretado por Lorne Greene, um rancheiro que vive em defesa e cultivo de sua propriedade, em Nevada.
Mas para quem procura por séries mais atuais, temos duas boas opções, uma mais engajada na comédia e outra digna de uma jornada western. O primeiro é O Rancho, série de comédia protagonizada por Ashton Kutcher, mas embora seja o mais famoso, ver Sam Elliott como um velho ranzinza que implica e reclama de tudo já vale a pena. A outra opção é Godless, uma série clichê onde a mocinha em busca de justiça e vingança encontra um heróis desgarrado. Embora caia na mesmice, é uma ótima produção.
Em sua Era de Ouro só nos EUA foram produzidos quase 700 filmes do gênero, se juntarmos isso aos filmes lançados na Europa e no Brasil teremos milhares de westerns, são muitos filmes para assistir. Além dessa quantidade de obras, o western foi essencial para que o cinema mundial crescesse. O Grande Roubo do Trem mudou a maneira de como contar histórias e filmes como Matar ou Morrer são referências até hoje. Com isso, quem sabe num futuro não tão distante vemos mais filmes do gênero ganhando a tela grande, já que a pouco tempo atrás eles eram referência e enchiam salas de cinema.
Postado por Tadeu Elias Conrado
Em
7/1/2019 à 00h05
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