Gratifica-se a quem achar
haveres meus abstratos
que cansei de procurar.
Quem viu por aí, ao acaso,
algumas tardes antigas
quando um menino escutava
um realejo longínquo
que já não se escuta mais?
Quem viu por aí, ao acaso,
um álbum de selos daqueles
de tempos bastante antigos
que transportava um menino
até distantes países
sem se mover do lugar?
Quem viu por aí, ao acaso,
estampas do sabonete Eucalol,
almanaques dos gibis
que coloriam de festa
manhãs de Natal tão modestas?
Quem por acaso sentiu
um aroma de alfazema
um cheiro etéreo e fugaz
de outras eras provindo
de um quarto de três mocinhas
as minhas irmãs meninas
que se foram sem voltar?
Quem entreviu ao acaso
as minhas musas de então,
se elas preferem agora
o exílio da escuridão?
Quem viu por aí, ao acaso,
feito um delírio acordado,
minhas rotas fantasias,
fantasmas rondando a esmo
nos corredores de outrora
da casa paterna morta?
Quem viu acaso um menino
vagando qual peregrino
que esqueceu de envelhecer?...
Ayrton Pereira da Silva