O mundo nunca foi tão intenso nem tão frágil! Essa é a conclusão imediata que se tem ao assistir “Years and Years”, série da HBO que retrata um futuro próximo em constante e abundante transformação. Dessa forma, a história parte dos dias atuais e vai seguindo ao retratar uma família com diversos personagens que sempre foram tabu na sociedade de fundo sexual, individual, no conflito de gerações e incrivelmente se deparando com “Terra Planistas”, que defendem uma vida retrógrada e renegam fatos comprovados da ciência.
Sendo assim, a série abusa das possibilidades do que virá a seguir e chega num primeiro momento a conclusão que de tanto evoluir, o mundo está voltando a seus primórdios e apesar de toda a tecnologia, ninguém deixou de ser humano, agindo com toda a visceralidade dos primeiros dias de existência. E mesmo como uma obra de ficção, “Years and Years” aponta os caminhos do futuro imaginado, onde não surpreendentemente a tecnologia impera cada vez mais na vida das pessoas, excluindo a maioria, causando dependência e solidão.
Quanto a cenografia, ninguém vive a la “The Jetsons”, com carros voadores e casas suspensas, mas os robôs estão presentes em praticamente todas as áreas e as pessoas querem existir para sempre como consciência na nuvem. Algo que não é aprovado por toda a população, dessa maneira a sociedade entra em conflito, numa guerra política e ideológica, onde culmina num quase fim de mundo com bombas nucleares e a população numa balburdia do “salve-se quem puder”. Tudo isso só no episódio piloto onde são 6 ao todo. O que virá por aí os próximos capítulos podem prever, mas como no acertado nome da série, o que acontecerá de verdade só os anos e anos dirão.
Fazendo uma análise do seriado trazido aos dias atuais, podemos perceber facilmente que a modernidade atrelada a tecnologia e a burocracia, ironicamente estão dificultando o desenvolvimento da sociedade como um todo. Não que seus avanços sejam ruins, mas o fato de não atingir a todos que desejam desfrutar de seus benefícios.
Desse modo, praticamente nenhum sonho hoje em dia é simples, para uma população que vive em países dilacerados pela fome e a guerra. Onde até as mais abastadas nações têm grandes ambições, muitas vezes inalcançáveis, sofrendo um eterno desconforto e insatisfação com as realizações da vida. Ninguém tem culpa disso, nem está errado em querer algo melhor, pois toda a mídia e marketing se fazem cada vez mais presentes sob todas as formas e de fato conseguem girar a economia universal.
Porém, tudo isso faz com que pessoas se lancem em perigosas e irresponsáveis aventuras, arrastando crianças exaustas pela mão e quase sendo mortos na próxima esquina. Tanto esforço para acabar como potencial alvo das estatísticas da violência ou para que no fim esteja sujeito as guerras de líderes inescrupulosos que podem encerrar o jogo num apertar de botão ou da própria natureza louca e descontrolada pelos feitos do homem.
Por fim, segue a reflexão de que progredir, avançar e inovar não é errado, pois a humanidade possui inteligência, criatividade e muitos outros atributos justamente para isso. O que está errado é a forma como é feito e distribuído no geral. Formando para o futuro uma geração de despatriados, descrentes e frustrados, que se sobreviverem a tudo, para onde irão? Será que o caminho avança ou retrocede em busca de valores descabidos? O filme “A Vila” de M.Night Shyamalan tem uma interessante concepção sobre o assunto.
Lembrando que, em tempos mais simples, o mundo era explorado por viajantes e aventureiros sem muros que o conquistaram e o construíram para quem o divide agora. Só uma de muitas e intensas questões unindo passado, presente e futuro.