BLOGS
>>> Posts
Segunda-feira,
20/4/2020
O Cinema em tempo de fúria
Tadeu Elias Conrado
+ de 4300 Acessos
Em tempos como esse que enfrentamos agora, vi muitos filmes ressurgirem. Enquanto Epidemia (1995), de Wolfgang Petersen, volta a ganhar destaque, vi que teve gente mencionando até O Enigma de Andrômeda (1971), de Wise. O fato é que com a impossibilidade de ir ao cinema, chegou a hora de apelar para plataformas de streaming e tirar da aposentadoria o aparelho de DVD e o discos comprados em promoções anos atrás. E foi isso que me levou a um pensamento inquieto que não me deixaria dormir.
Vejamos, sejam filmes exagerado ou não, retratar uma pandemia é contar uma história que permeia entre a tragédia e a esperança, deixando infelizes personagens para trás. Mas indo de encontro aos clássicos que preservo em minha prateleira, e resistindo a Bergman, coloquei para rodar O Anjo Exterminador (1962) de Buñuel. Aqueles que ainda não o fizeram, deveriam, pois embora tenha dividido opiniões em seu tempo, O Anjo é, senão a melhor, uma das melhores obras do cineasta.
Após sair de um concerto, um casal da alta sociedade convida alguns amigos para um luxuoso jantar. Já se estranha quando todos os empregados, com exceção do mordomo, deixam a casa antes do evento. O estranhamento aumenta quando o jantar chega ao fim e, tanto os anfitriões quantos os convidados, se vêm incapaz de deixar o salão e são obrigados a passar a noite no lugar. A situação se agrava no dia seguinte, quando fica claro que não conseguirão ir a lugar algum. A cada minuto o ambiente vai se tornando mais pesado, sem saber o que os prende ali, os personagens vão se desgastando, as máscaras caem e atitude extremas dá início aos conflitos.
Luis Buñuel é um ícone do cinema europeu. Além de seu grande trabalho em O Anjo Exterminador, também criou outras grande obras, como O Cão Andaluz (1929), Viridiana (1961), A Bela da Tarde (1967) e O Discreto Charme da Burguesia (1972), sempre explorando o caráter humano. Isso nos traz outra visão da pandemia que enfrentamos. Ao invés de assistirmos ou discutirmos sobre o inimigo invisível que enfrentamos, proponho que façamos um ensaio sobre o comportamento humano em estado de cárcere. Outros filmes me vêm a cabeça, como o recente O Farol e até mesmo 7 Mulheres (1966) de John Ford.
Uma discussão dessas certamente nos levará a longas viagens pela história de cinema e nos dará algumas horas, quem sabe até dias de discussão. É um exercício interessante e que nos ajudará a nos auto-conhecer e quem sabe até melhorar nossas vidas e atitudes em confinamento. Quem sabe não chegamos a Arte da Discórdia, fato que me ocorreu agora, mas o interessante é que no final cheguemos a um consenso, ou até mesmo a lugar algum.
Ainda em tempo, fico aberto a outras sugestões de filmes que apresentem essa idéia.
Postado por Tadeu Elias Conrado
Em
20/4/2020 às 18h03
Ative seu Blog no Digestivo Cultural!
* esta seção é livre, não refletindo
necessariamente a opinião do site
|
|